André Magrinho, Professor universitário, doutorado em gestão | andre.magrinho54@gmail.com

Os debates políticos nesta fase que antecede as eleições, têm abordado uma diversidade de temas: desde o modelo de governo, à economia, à saúde, à segurança social, às desigualdades, aos salários, aos preços da energia, entre outros. O debate e a troca de ideias, em democracia, devem conduzir a uma clarificação das prioridades políticas que os partidos políticos propõem para a próxima legislatura. Sucede, no entanto, que o tema central para o nosso futuro coletivo, tem estado relativamente arredado do debate, ou insuficientemente tratado: como Portugal poderá crescer mais e melhor?

E, na verdade, responder a esta questão é crucial, porque exige uma estratégia, políticas, projetos e ações e incentivos consistentes, conducentes à criação de mais riqueza, ao incremento da produtividade e da competitividade da economia, à valorização dos salários, das qualificações e das competências, ao combate às desigualdades, ao investimento em educação, ciência e tecnologia, a uma política externa e de internacionalização da economia inteligentes, a uma valorização competitiva do território, no que se refere à economia, à indústria, aos serviços, e como destino atrativo e de tudo o que aqui se cria e produz, dando expressão à nossa oferta dirigida ao mundo.

Só crescendo mais e melhor é que permitirá melhorar substancialmente a qualidade vida dos portugueses. As propostas de política que tenham como foco único a despesa, por muito justificável que seja, sem uma contrapartida de receitas noutras áreas, poderão ser insustentáveis, e como tal inconsequentes.

Em termos relativos e, sobretudo, quando nos comparamos com os nossos parceiros da União Europeia, a economia portuguesa cresceu cerca de 0,5%, em média, nos últimos 20 anos. É um crescimento muito reduzido que nos coloca nos últimos lugares do ranking do crescimento. Temos igualmente uma demografia que, na ausência de políticas ativas consistentes, é das mais desfavoráveis do mundo, com o que isso pode significar em matéria de pressão sobre os recursos da segurança social e o do sistema de pensões.

A título de exemplo, estudos recentes apontam para que o índice de sustentabilidade potencial (quociente entre o número de pessoas com idades dos 15 aos 64 anos e o número de pessoas com 65 e mais anos) poderá diminuir de forma acentuada, face ao decréscimo da população em idade ativa, a par do aumento da população idosa. Este índice, se nada for feito, poderá passar de 259 para 138 pessoas em idade ativa, por cada 100 idosos, entre 2018 e 2080.

Voltando à questão inicial, não há “receitas” mágicas para crescer mais e melhor, nem qualquer anátema que nos possa impedir de crescer mais e melhor, como também não existem “cópias” infalíveis para o crescimento. Temos empresas, organizações, pessoas e talentos, capital científico e tecnológico e recursos diversos de grande valia. Quando procuramos aprender com as economias e as sociedades que conseguiram trilhar trajetórias de desenvolvimento bem sucedidas, constatamos que todas elas têm elementos em comum.

Basicamente, têm conseguido desenvolver espaços de cooperação estratégica entre a comunidade empresarial, os sistemas de educação, formação e de ciência e tecnologia e, os governos e as suas instituições autónomas que, por via das políticas públicas, desempenham um importante papel catalisador. Este entendimento, em torno de objetivos estratégicos, afigura-se crucial para que Portugal possa crescer mais e melhor.