Em 2010, uma família precisava de acumular 9,52 anos de rendimento disponível para comprar uma casa de 100 m2.

É possível comprar uma casa em Portugal sem ter de recorrer a um crédito à habitação? Sim, mas uma família residente no país precisaria de usar a totalidade dos rendimentos líquidos conseguidos com 11,38 anos de trabalho, ou seja sem pagar outras despesas, para comprar uma casa de 100 metros quadrados (m2), tal como mostram as contas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).

Hoje, a situação não é muito diferente da registada no arranque do século XXI, já que no ano 2000 eram necessários 11,26 anos rendimentos disponível para adquirir uma casa destas dimensões – apenas menos 0,12 anos. A realidade, no entanto, oscilou bastante nos últimos 20 anos. Em 2010 foi registado o menor número de anos necessários para um agregado familiar comprar casa – em concreto 9,52 anos. 

Note-se que este período coincide com a crise financeira portuguesa que fez descer o valor dos imóveis. Já em 2017 começou-se a sentir a recuperação do mercado imobiliário com as famílias portuguesas a necessitar de acumular 9,82 anos de rendimento disponível para comprar casa sem recorrer ao crédito à habitação. O preço das casas continuou a subir em flecha até que em 2020, uma família portuguesa precisaria de trabalhar 11,4 anos para o fazer.

 

Estes cálculos da OCDE divulgados no seu relatório ‘Brick by Brick: Building Better Housing Policies’ (Tijolo a tijolo: Construir Melhores Políticas de Habitação), vêm mostrar como os preços das casas têm vindo a aumentar a um maior ritmo do que os rendimentos médios das famílias na maioria dos países. E note-se que o rendimento disponível diz respeito ao valor líquido auferido depois dos descontos para a Segurança Social e impostos, não tendo em conta as despesas variáveis de cada agregado.

Olhando a capacidade de aquisição dos outros países – dada pelo rácio entre preços das casas pelo rendimento disponível -, Portugal é o 12º país onde as famílias precisam de trabalhar mais anos para comprar uma habitação de 100 m2. No topo da lista está a Nova Zelândia. Neste país uma família precisa de acumular 18,7 anos de rendimento médio disponível para comprar uma casa destas dimensões. Na Coreia do Sul são precisos 16,6 anos e na Irlanda 16,1 anos. Onde é preciso trabalhar menos tempo para conseguir adquirir uma casa deste tipo é mesmo nos Estados Unidos, já que só é preciso acumular 4,1 anos de rendimentos.

Pressão sobre preços deverá diminuir

Mesmo durante a pandemia da Covid-19 os preços das casas continuaram a subir na maioria dos países da OCDE. E Portugal entra novamente na lista dos que registaram uma maior evolução entre 2019 e 2020, estando na ordem dos 7%. Mas esta realidade no longo prazo poderá mudar. As estimativas da OCDE para 2050 mostram que é esperado que a “pressão sobre os preços diminua em vários países, incluindo Letónia, Portugal, Polónia, Japão e Itália, principalmente devido à diminuição da população”, refere o relatório divulgado esta segunda-feira (dia 14 de junho de 2021).

Os cálculos são feitos “assumindo as políticas atuais como constantes ao longo do horizonte de projeção”, explica a organização, que estima ainda que durante os próximos 30 anos o “rácio preço das casas/ rendimentos deverá aumentar substancialmente em Luxemburgo e na Suécia e, em menor grau, na Austrália, Nova Zelândia, Dinamarca, Holanda e Reino Unido”.

Recorde-se que as despesas com a casa são as que mais pesam nos orçamentos das famílias dos diferentes países da OCDE. Em Portugal pesam tanto que o risco de sobre-endividamento é o maior de toda a OCDE- alcançando os 264,1%.

 

Por: Idealista