O Rugby Clube de Loulé nasceu em 1982, sucedendo ao Núcleo de Rugby de Loulé, criado em 1975, e à Secção de Rugby do Louletano Desportos Clube, emblema sob o qual se iniciou a participação, até hoje ininterrupta, em campeonatos nacionais no escalão sénior.

André Coelho é, desde julho de 2022, o Presidente do Rugby Clube de Loulé, sucedendo a José Moura. Nesta entrevista, fala-nos do título de Campeões Nacionais e da subida à I Divisão, assim como objetivos futuros. 

A Voz do Algarve (V.A.) - Como começou a sua carreira desportiva e como chegou ao rugby?

André Coelho (A.C.) – A minha ligação ao desporto começou cedo. Primeiramente, fui jogador de futebol, nas camadas jovens do Salir. Depois, comecei a jogar futebol no Louletano, sendo que já fazia karaté nessa altura. A partir dos 13 anos dediquei-me com mais afinco à prática do karaté e artes marciais, onde fazia competição. Todos os meus amigos eram do rugby e, após conseguir atingir os meus objetivos pessoais no karaté, em 2000, após regressar do Campeonato do Mundo no Japão, decidi mudar de desporto, apesar de continuar ligado na mesma à USRP, que é o Clube de Karaté de Loulé, onde sou o Presidente do Conselho Fiscal. Fiz depois a transição para o rugby e ingressei, na época 2000-2001, no Rugby Clube de Loulé, na equipa sénior. Fui jogador durante 15 anos, ocupei a função de treinador nas camadas jovens dos sub-14, fui capitão de equipa, vice-diretor, diretor da equipa sénior (que foi campeã nacional) e atualmente sou o presidente do Rugby Clube de Loulé.

V.A. - Como surge esta possibilidade de ser Presidente do Rugby Clube de Loulé? Foi uma candidatura espontânea?

A.C. – Sim. Candidatei-me porque na altura envolvi-me muito como diretor desportivo e achei que a Direção que estava em vigor, estava um pouco “saturada”, nomeadamente o José Moura, que estava há 8 anos no cargo. Temos um projeto que necessita de sangue novo e propus a minha candidatura, que foi desde logo muito bem aceite. O José Moura ficou a ser o vice-presidente e a Assembleia Geral manteve-se, assim como o Presidente do Conselho Fiscal. Tivemos a inclusão de um membro que já fazia parte do clube. Em termos de direção, os antigos vice-presidentes passaram a ocupar cargos de Diretores de Equipa.

V.A. - Aquando da sua tomada de posse como presidente, o que já mudou e o que já conseguiu implementar daqueles que eram os seus objetivos iniciais?

A.C. - Penso que já tivemos bastantes mudanças, mas ainda há muito para fazer e melhorar. Noto uma dinâmica maior e, obviamente, que o título de Campeões Nacionais nos deu bastante visibilidade e destaque, nomeadamente, junto da comunicação social. Contudo, esta projeção é um trabalho que vem desde sempre, uma vez que há 40 anos que praticamos rugby e que participamos em jogos a nível nacional e internacional. O culminar da situação de termos sido campeões nacionais da II Divisão e subida à I Divisão, fez com que ficássemos na “moda”, o que nos traz uma enorme responsabilidade, porque temos muitos patrocinadores do concelho de Loulé e uma empresa de capital estrangeiro. Esta questão demonstra que acreditam no nosso projeto. Este é um clube que me diz muito e, depois de já ter passado por quase todos os cargos, diria que a minha vida nunca se vai dissociar deste clube e vice-versa. Enquanto eu for Presidente do Rugby Clube de Loulé, só há um clube e não quero que existam divisões. Temos equipas desde os Sub-8 até aos Veteranos, incluindo uma equipa feminina. Será este um dos objetivos fundamentais da minha candidatura. Todos temos de valorizar o nosso clube.

V.A. - Existe uma mudança de “chip” quando se atinge este patamar? Imagino que a responsabilidade aumente.

A.C. - Temos todo o impacto de subir à I Divisão e sermos o único clube de Modalidade Coletiva Sénior a competir no Campeonato Nacional. O Campeonato da I Divisão é, como dizemos na gíria, o “Campeonato de Portugal”, uma vez que temos equipas de Norte a Sul do país e nos deslocamos várias vezes a esses sítios. O sucesso que tivemos permitiu-nos implementar, dentro do amadorismo, o máximo profissionalismo possível. Em 2022, fomos Campeões Nacionais da II Divisão e fomos aos oitavos de final da Taça de Portugal. Para se ter uma ideia, tínhamos uma equipa com cerca de 45 atletas no jogo da final: tínhamos 25 jogadores (permitidos pela ficha de jogo), mais três treinadores e um diretor que poderia jogar e 15 atletas na bancada que viajaram connosco, porque foram opções táticas. Isto só se consegue com muito profissionalismo, porque ninguém recebe um ordenado e todos têm a sua vida fora do clube. Somos um grupo de pessoas que jogamos por gosto, mas, obviamente, o patamar onde estamos exige muito mais de todos nós. O orçamento que as outras equipas têm em relação ao nosso é muito maior, porque acabámos de subir à I Divisão.

V.A. - Quantas equipas constituem o Rugby Clube de Loulé?

A.C. - Temos os Sub-8, Sub-10 e Sub-14, que são os escalões de formação. Depois, temos os Sub-16, Sub-18 e Sub-19, que são os escalões de pré-competição e competição. Temos os Séniores, a equipa Sénior Feminina e a equipa de Veteranos. Temos cerca de 110 atletas inscritos na equipa de Federação, sem contar com a equipa de Veteranos. Entre atletas, dirigentes e treinadores, somos mais de 150 pessoas. O aumento tem sido crescente, principalmente em 2022, em consequência de termos sido Campeões Nacionais. O facto de jogarmos com diversos clubes a nível nacional também é um fator que acaba por atrair mais interessados.

V.A. - Como é que se lida com o “sentimento” de ser derrotado no rugby? Difere de outros desportos? Existe alguma forma de lidar melhor com essa questão?

A.C. - Sim, tem de existir. O rugby é um pouco à parte dos outros desportos, porque não existe muito a questão de vencer, isso é relativo. O que interessa para estes jovens é participar e jogar e esse é o espírito do rugby. A terceira parte de um dos nossos jogos é o momento onde vamos falar com o adversário, comentar as jogadas e somos amigos - grande parte dos jogadores de rugby são amigos. A nossa rivalidade é entre aquelas linhas e com os jovens acontece precisamente isso e é-lhes incutido o que é essencial: que é participar. Até ao escalão do Sub-16 não há competição. A partir daí, são equipas que participam em Campeonatos Nacionais e cujo objetivo é ter a melhor classificação possível.

V.A. - Como se faz a logística para os jogos, sendo que precisam de autocarros para as deslocações?

Os nossos patrocínios são bastantes e as empresas que nos têm contactado para ter patrocinadores têm nome a nível do concelho e até da região algarvia. Temos também empresas do Reino Unido que nos estão a apoiar. O nosso grande patrocinador, porém, é a Câmara Municipal de Loulé, que nos cede as instalações onde estamos e por parte da autarquia há sempre a flexibilidade em nos ceder transporte, raramente precisamos alugar um autocarro.

V.A. - Qual é o papel de um sócio do Rugby Clube de Loulé? São também uma fonte de receita para o clube?

A.C. – Sim. Há muitos sócios que nos ajudam nas atividades do clube e são também uma fonte de receita. Para além disso, são uma parte integrante da estrutura do clube, assim como os amigos, porque o Rugby Clube de Loulé tem realmente muitos amigos. Nas nossas redes sociais temos bastantes “gostos” e interações e a comunidade britânica acaba por colaborar também bastante connosco. É preciso que se note que somos a única equipa do Algarve a praticar rugby.

V.A. - O rugby é realmente um desporto de elite?

A.C. - Há uma opinião generalizada de que o rugby é um desporto da elite, no sentido de ser um desporto praticado por pessoas com capacidades financeiras superiores. O rugby é um desporto de elite porque nasceu na Universidade e, no Rugby Clube de Loulé, continuamos a ter jogadores da Universidade do Algarve. Considero que este é realmente um desporto de elite porque tem pessoas que conseguem estar 80 minutos em disputa e, quando o árbitro apita, todos falam e riem uns com os outros. Os valores do rugby são os da amizade, do companheirismo, do espírito de equipa, do sacrifício, da entrega e esses valores são destacados a nível empresarial e a da sociedade.

V.A. - A história do Rugby Clube de Loulé começou oficialmente em 1982, mas desde o ano de 1974 já se fala de rugby em Loulé. O que aconteceu nessa altura?

A.C. – É verdade, no ano de 1974, na sequência de uma reunião no Hotel da Penina, em Portimão, surgiram três núcleos de rugby no distrito de Faro - Loulé, Montenegro e Portimão. Temos o grande embaixador do Rugby Clube de Loulé, o Faustino Pires, que começou a desenvolver o rugby com outras pessoas e um dos sócios fundadores foi Joaquim Vairinhos. Inicialmente começámos a jogar em campos pelados e houve aqui uma série de passos até chegarmos ao campo relvado. Desde aí, tem existido competição em Loulé.

V.A. - No ano de 1991 o Rugby Clube de Loulé teve a sua primeira equipa feminina federada. O que significa esta conquista?

A.C. - Temos a participação das mulheres no desporto desde 1991, portanto já há muito tempo. Inclusive, sublinhar que fomos Campeões Nacionais da II Divisão na equipa feminina. Tal como as equipas compostas por homens, as equipas femininas tiveram sempre o mesmo percurso. Isso foi algo inovador, para a época de 1991, e é motivo de orgulho. A participação tem sido crescente e a equipa tem-se afirmado. Tivemos uma atleta envolvida nos treinos da Seleção Portuguesa.

V.A. - O Rugby Clube de Loulé já teve diversos reconhecimentos e venceu vários prémios. Quais gostaria de destacar e o que trazem de bom ao clube?

A.C. - De modo generalizado, a nível de títulos fomos Campões Nacionais da II Divisão de Séniores duas vezes, fomos Campeões Nacionais Femininos uma vez, Vice-campeões Nacionais de Séniores duas vezes, Vice-campeões Nacionais de Sub18 duas vezes, já fizemos 37 torneios internacionais (e que recebemos a visita de cerca de 400 atletas, treinadores, dirigentes e apoiantes provenientes de países como a Espanha, Holanda, França e África do Sul), já jogamos várias vezes com as Seleções Nacionais, Seleção da Escócia e Seleção do País de Gales. Ganhámos diversos títulos, como o da Equipa Fair Play e somos uma equipa com prestígio a nível nacional, trabalhamos muito com a Federação Portuguesa, fomos parte integrante do Algarve Sevens, no apuramento para o Campeonato da Europa de Sevens, onde Portugal ganhou e foi considerado um dos melhores eventos de Sevens feito em Portugal. Somos um clube com várias vitórias, títulos e jogadores que fizeram os treinos com Seleção Portuguesa.

V.A. - Quer deixar uma mensagem a todos os atletas, fãs e às pessoas que fazem tudo isto valer a pena?

A.C. – Quero agradecer a todos e dizer que nos continuem a acompanhar. Faço o convite aos que gostem da modalidade e queiram experimentar, que são bem-vindos ao nosso clube. Aqui há espaço para todos.

 

Por: Filipe Vilhena