Medidas propostas visam a criação de uma resposta coerente para a gestão da IC em Portugal, otimizando custos que podem ajudar o SNS em caso de agravamento da pandemia de Covid-19.

Um grupo de personalidades de renome no setor da saúde, onde se incluem deputados, ex-ministros, representantes de entidades reguladoras, profissionais de saúde, doentes e associações do setor, apresenta hoje uma proposta para melhorar a gestão da insuficiência cardíaca (IC) em Portugal.

Num ano em que os cuidados de saúde têm dominado o foco das autoridades devido à pandemia por COVID-19 e em que se torna urgente tomar medidas para garantir a continuidade dos cuidados prestados a doentes crónicos nomeadamente com IC, os autores deste Consenso alertam para uma maior urgência na necessidade de implementação de iniciativas baseadas na evidência e custo-efetivas no sentido de limitar a carga pessoal e os gastos com hospitalizações, muitas vezes evitáveis e frequentemente observadas na IC.

Este documento de consenso teve a coordenação científica da Heart Failure Policy Network (HFPN), rede europeia que pretende consciencializar para as necessidades dos doentes com insuficiência cardíaca e seguiu o “Método do Consenso” desenvolvido pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade Católica Portuguesa.

A iniciativa contou com o apoio da Novartis e da Medtronic.

De entre as medidas apresentadas no documento de consenso, destaca-se a necessidade de criação de um Plano Assistencial Integrado em IC que deverá contar com uma rede de referenciação entre cuidados de saúde primários (centros de saúde, USFs, ACES) e secundários (hospitais). 

Esta rede deve ter critérios de acesso claros, permitindo uma distribuição adequada entre as complexidades de cada pessoa com IC e as competências dos diferentes níveis de cuidados.

O grupo propõe também a uniformização de critérios e a partilha de informação entre os diferentes níveis de cuidados, o que permitirá o desenvolvimento de um registo uniforme e robusto em insuficiência cardíaca. 

De forma a garantir uma resposta eficiente continuada a esta patologia, é ainda proposto que os cuidados sejam monitorizados e avaliados, através da criação de um painel de indicadores comum entre os vários níveis de cuidados.

Este painel de indicadores deve considerar todo o percurso clínico das pessoas com IC, focando-se em resultados e sendo, por isso, indutor de uma melhoria contínua de cuidados, pela partilha de boas práticas.

“A elaboração do consenso reuniu elementos dos diferentes quadrantes da área da saúde, o que permitiu a criação de um documento que procura dar resposta a todas as necessidades não atendidas das pessoas que vivem com IC e seus cuidadores. 

O envolvimento de diferentes atores e entidades decisoras neste projeto reflete a preocupação real em torno da IC e reforça a necessidade urgente de implementar uma estratégia integrada e coerente, capaz de reverter o panorama da síndrome em Portugal e ajudar as pessoas que vivem com IC, que são muitas vezes esquecidas”, revela Sara Correia Marques, representante da Heart Failure Policy Network (HFPN), entidade responsável pela coordenação científica do documento.

“A situação da IC em Portugal exige uma atuação urgente com especial destaque para os profissionais de saúde que devem atuar em equipas multidisciplinares e integradas, de modo a que exista uma resposta mais célere e concertada entre os diferentes níveis de cuidados.

É fundamental que os bons exemplos que temos nesta área não sejam exceções, mas sim a regra”, indica Pedro Marques, cardiologista do Hospital de Santa Maria.

De acordo com José Silva Cardoso, coordenador do Grupo de Estudo de Insuficiência Cardíaca, da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, “considerando o aumento da prevalência da Insuficiência Cardíaca em Portugal é indispensável torná-la uma prioridade do Serviço Nacional de Saúde, de modo a prepará-lo para esta área ao nível clínico, organizativo e financeiro.

Só assim será possível garantir aos doentes um melhor prognóstico e uma melhor qualidade de vida.

Simultaneamente, é imprescindível informar a opinião pública e os doentes, de modo que estejam mais conscientes e despertos para a patologia”.

Luís Filipe Pereira, presidente da Associação de Apoio aos Doentes com Insuficiência Cardíaca (AADIC) e ex-ministro da Saúde considera que as medidas propostas neste documento vêm dar uma resposta coerente às necessidades impostas pela doença.

Nesta fase de pandemia em que se tornou claro que, a qualquer momento, uma doença infeciosa pode monopolizar o SNS, a implementação de uma estratégia para lidar eficazmente com a IC é imprescindível”.

E remata: “espero que o ‘Consenso Estratégico para a Insuficiência Cardíaca em Portugal’ possa atuar como um catalisador para o desenvolvimento de novas políticas de saúde e possa ajudar a reformular o modo como o nosso país dará resposta à crescente carga da insuficiência cardíaca.”

O “Consenso Estratégico para a Insuficiência Cardíaca em Portugal” resulta de um trabalho conjunto de um grupo multidisciplinar constituído por médicos de Cardiologia, Medicina Interna e Medicina Geral e Familiar, representantes de sociedades científicas, enfermeiros, farmacêuticos, representantes da Associação de Apoio aos Doentes com Insuficiência Cardíaca (AADIC), especialistas em Saúde Pública, membros de serviços do Ministério da Saúde, decisores políticos, representantes de associações da indústria farmacêutica e de dispositivos médicos.

Por: LMP