André Magrinho, Professor universitário, doutorado em gestão | andre.magrinho54@gmail.com

Há muito que as economias mais desenvolvidas, sobretudo da Europa e dos Estados Unidos, se tinham desabituado de viver com inflação e com taxas de juro elevadas. Tudo se alterou nos últimos meses e de acordo com reputados especialistas, instituições europeias e internacionais, não são de esperar boas notícias quanto a estes dois indicadores, pelo menos durante este ano, e, muito provavelmente, durante uma parte significativa de 2023. 

E sabemos que inflação e taxas de juro elevadas penalizam a economia, tanto os consumidores que sentem na pele os efeitos dos preços no seu cabaz de compras e, as empresas, que sofrem o efeito do aumento dos custos de muitos dos fatores de produção que necessitam, além de que inflação elevada arrasta a subida das taxas de juro e com isso o custo do crédito. Em concreto, as famílias com o mesmo dinheiro vão ter que fazer face a despesas maiores por força do efeito-preço.  

É esta a situação com que atualmente se confronta a economia europeia e naturalmente Portugal. Na verdade, a inflação passou de 0,9% em 2021, aliás o referencial para a atualização de rendas de casa, de salários na função pública ou mesmo para determinadas prestações sociais, para os mais de 8% registados no passado mês de maio, um valor que há quase 30 anos não se fazia sentir de forma tão expressiva.  

Um estudo da DECO, citado por Joana Petiz do DN, é peremtório quanto ao efeito da inflação nas famílias, tomando por base um cabaz de compras com 63 produtos que constituem um padrão típico do consumo das famílias portuguesas, tendo concluído que em média está atualmente 10% mais caro quando comparado com 2021. É mesmo provável que os preços ainda possam subir mais no 4º trimestre, caso os problemas no aprovisionamento de energia subsistam, sabendo-se que é no Inverno que os consumos disparam. Sucede que os decisores de política económica, por norma, recorrem ao aumento das taxas de juro, para fazer face a taxas de inflação elevadas e persistentes.

É esse o sentido que o BCE-Banco Central Europeu está a dar, de acordo com declarações da sua presidente, Christine Lagarde, que já assumiu, este mês, uma revisão das projeções da taxa de inflação para 6,8% este ano e 3,25% em 2023. E. consequentemente, justifica a necessidade de em sede de política monetária, de aumentar a taxa de juro do BCE de 25 pontos-base.

Significa, entre outros aspetos, que as prestações associadas aos créditos à habitação vão subir, assim como o custo do crédito em geral. É legitimo perguntar até quando esta situação de inflação e taxas de juro elevadas vai durar? É uma resposta difícil porque muitos dos fatores que a condicionam têm elevada imprevisibilidade associada, como são os casos das disrupção de muitas cadeias de abastecimento globais que ainda não se recompuseram das perturbações associadas à COVID 19, mas também a invasão da Ucrânia que tem um efeito muito significativo nos custos energéticos e de de bens agrícolas essenciais, incluindo os fertilizantes e os cereais; ou ainda, alguns custos associados à descarbonização e à transição energética das economias, que numa primeira fase têm alguns custos associados. De acordo com as previsões das instituições internacionais mais reputadas, dificilmente se caminhará para uma trajetória de normalização antes da segunda metade de 2023.