Política monetária deverá manter-se restritiva nos próximos anos, com juros diretores acima de 2% até ao final de 2026.

A subida das taxas de juro diretoras pelo Banco Central Europeu (BCE) já vai longa e deverá estar a atingir o pico em breve. Quem o diz é Mário Centeno, o governador do Banco de Portugal (BdP), avisando que, mesmo depois de atingir o máximo, as taxas de juro diretoras não vão baixar, mas sim manter-se estáveis nesse patamar. Só em 2024, se a inflação descer claramente é que o regulador europeu poderá descer os juros.

"Devemos estar a aproximar-nos da taxa terminal, a taxa mais alta de um ciclo de aumento das taxas de juro, se isso é feito em junho ou julho (..) depende da inflação", afirmou Mário Centeno na conferência de imprensa de apresentação do Relatório de Estabilidade Financeira.

E deixa um aviso: mesmo que o BCE termine o ciclo de subidas dos juros diretores, "o aperto da política monetária não termina nesse dia", o que poderá dar estabilidade aos agentes económicos, como famílias e empresas, considerou o governador do BdP. Ou seja, os juros diretores vão manter-se em patamares que rondam os 3%-4% durante algum tempo, mas sem novas subidas pelo BCE.

Quando vão descer os juros diretores?

Segundo Mário Centeno, os juros diretores só “deverão descer em algum momento durante o ano 2024”. Mas deverá manter-se uma política monetária restritiva nos próximos anos, com as taxas de juro diretoras acima de 2% até ao final de 2026 (de notar que antes de começarem a subir estavam em 0%).

O último aumento das taxas de juro diretoras pelo BCE para travar a inflação ocorreu na semana passada em 25 pontos base, tendo elevado a principal taxa de refinanciamento para os 3,75% e a taxa de depósitos para os 3,25%, os valores mais elevados desde outubro de 2008.

Estes aumentos estão a ter efeitos diretos na subida das taxas Euribor que, por sua vez, têm aumentado as prestações da casa nos créditos habitação de taxa variável. Por outro lado, também está a ter efeitos na subida das taxas de juro nos depósitos a prazo.

 

Bancos deverão continuar a subir taxas dos depósitos

Dada a subida dos juros diretores pelo BCE, o governador do BdP espera que os bancos continuem a subir as taxas dos depósitos. Olhando para as baixas taxas de remuneração pagas pelos bancos, Mário Centeno considerou que "está a acontecer com alguma rapidez a subida das taxas de juro das aplicações passivas [depósitos]" e acrescentou que espera que "não tenha terminado".

Questionado sobre o facto de estarem a sair depósitos dos bancos para outros produtos, como certificados de aforro, o governador considerou normal e que os indicadores de liquidez não demonstram dificuldades das instituições.

A taxa de juro dos novos depósitos a prazo de particulares registou em março a maior subida desde 2011, para 0,90%, mas Portugal mantém o segundo valor mais baixo entre os países da área do euro, segundo o BdP.

 

Por: Idealista com Lusa