Celebramos, hoje, o Dia Mundial da Paz.

Pede-nos a liturgia deste dia e a Igreja que reflitamos sobre o que significa ter e dar paz ao mundo. Pensamos, imediatamente, nas nações da África, da Ásia ou da América Latina onde há conflitos armados, onde se mata por qualquer razão, até mesmo e, sobretudo, por causa da Fé que se professa.

Mas a necessidade de paz não resulta somente do enfrentamento das balas e dos soldados. A necessidade de paz existe em todos os lugares do mundo e em cada um de nós, porque a paz não é um conceito teórico; é um conceito que se concretiza nas nossas ações e atitudes, que se concretiza na nossa vida individual e comunitária e o estilo de vida ocidental não é um estilo de vida marcado pela paz, ao contrário do que possamos pensar.

Este ano ensinou-nos precisamente isso: um pequeno gesto nosso, uma pequena falha nossa pode provocar uma imensidão de problemas aos outros que estão à nossa volta, que partilham a vida na mesma cidade que nós. Pode fazer perigar a paz ou mesmo pôr-lhe fim.

Neste momento, Tavira enfrenta uma grave situação relativamente à doença COVID 19, provocada pelo vírus SARS COV 2. Pensamos que todos temos um comportamento adequado e cuidadoso, mas se o tivéssemos, não estaríamos a sofrer e a viver com números tão tristes relativos à pandemia. Isto mostra que o nosso comportamento tem influência na vida dos outros, na paz social, na forma como nós vivemos em sociedade. A obrigação do cristão não é a sua vivência individual de Fé, mas a sua vivencia comunitária, traduzida em atos concretos a favor do próximo e isso implica a preocupação com o bem comum, com a paz, com a verdadeira paz.

É, pois, a hora em que devemos procurar promover entre nós a tranquilidade e implementar os gestos que nos garantam que todos somos capazes de respeitar os outros, de lhes dar segurança, de cumprir comportamentos que impeçam a propagação desta doença. Não nos deve preocupar a instantaneidade de um fogo de artificio, que já ninguém recorda no dia seguinte, mas um compromisso interior, gerador de uma breve e perene atitude, que pode fazer com que o outro não adoeça, não pereça e fique entre nós, contribuindo para a eternidade do nosso povo. É imprescindível seguir as indicações das autoridades de saúde.

É esse o meu apelo, neste primeiro dia do ano: sejamos verdadeiros construtores da paz, da paz que protege e que cuida, da paz que nos garantirá sorrisos e festas no futuro, porque já todos estaremos bem e poderemos voltar aos abraços e à partilha dos afetos e dos momentos.

Rezo, pedindo a Santa Maria, que hoje se celebra e a S. João, padroeiro de Tavira, que nos ajudem, mas sobretudo que nos façam tomar consciência de que a nossa oração deve ter um resultado prático concreto, uma mudança de atitude, olhando para a nossa vida e pensando que agora, neste momento, o melhor para o bem comum é não festejar em grandes grupos, não ir a jantares, usar máscaras, desinfetar as nossas mãos, manter o distanciamento social, ser responsável e construtor da autêntica paz.

A todos desejo um bom ano de 2021, um ano melhor que o que terminou, porque seremos capazes de mostrar o que há de melhor em cada um de nós!

Pe. Miguel Neto, Pároco de Tavira