Por: Padre Carlos Aquino | effata_37@hotmail.com

“Se o grão de trigo, ao cair na terra, morrer, dá muito fruto” (Jo 12, 24). Iniciamos o mês de novembro contemplando a vulnerabilidade da vida, a sua caducidade, a lembrança dos que já findaram o seu percurso terreno, marcados pela tristeza e pela saudade. A que preço se pode garantir a vida? Uma vida que desejamos feliz e para sempre? Reconhecemos a realidade misteriosa e contraditória da própria vida e da natureza humana inclinadas para a morte. Mas em que pensamos nós quando falamos de uma vida após a morte? Acreditamos nisso? Ainda temos algo a esperar? E que sentido damos à vida antes da morte? A vida é um nome que não acaba, que não morre. Devíamos falar dela com outras palavras, como os jardineiros falam da terra, os astronautas a observam dos céus. Olhando a formiga e a cigarra, o caracol e a borboleta, devíamos aprender a nos deslumbrar perante o mistério da vida. Nesta urgência e necessidade da busca de um sentido, senti-me ferido pelo assombro dos luminosos versos de Daniel Faria: “Pai/ Tenho medo de morrer depois da morte/ Tenho medo de morrer antes da vida”. Incessantemente busca-se a felicidade e a plenitude, mas desengane-se quem compartilhando o pensamento de Ludwig Feuerbach e de Karl Marx considera que realizando para todos a promessa de uma vida terreste plena de sentido perder-se-ia a necessidade da eternidade e tornar-se-ia inútil a proposta da religião. A satisfação imediata dos prazeres e a excitação pelo consumo sem nada se consumar, suscitará sempre novas necessidades. Não garantem, na verdade, vida para sempre. Tornar-nos-á reféns de frustrações e desilusões, de vazio. O ser humano é um ser de permanente superação, de transcendência. Só Deus, na verdade garante plenitude de vida a todas as fomes e sedes humanas. Por isso o nosso coração vive inquieto enquanto não repousa n’Ele. Ele é o Céu e a eternidade. N’Ele o tempo e o espaço já não são limite à existência; o aqui, o agora e o mais tarde, perdem todo o seu significado. A vida eterna é aquela que vence a morte e tudo o que ela, definitivamente, representa. É a conquista da plenitude vital do ser, com a possibilidade de prosseguir eternamente a sua existência apaixonada. Não se nasce para essa vida acordando de um sono, vencendo um grave letargo, reanimando um cadáver. É, na verdade, um novo nascer! Brotará quando forem vencidas todas as forças de degradação que existem na vida terrena contrárias à verdade do amor, cuja morte é a sua maior expressão. Aprendemo-la como um grão de trigo, que lançado à terra, morre. Esta vida garante-a Deus para todos, proporcionando a verdade de “novos céus e nova terra”.