De impermeável vestido, Adelina Nunes estava ao final da manhã de hoje sentada numa cadeira colocada num dos círculos no recinto do Santuário de Fátima, preparada para o dia e noite da peregrinação de 12 e 13 de maio.

“Já estou a guardar lugar”, disse à agência Lusa a peregrina, de 60 anos, de Paço de Arcos, distrito de Lisboa, que há “muitos anos” se desloca a Fátima.

“Vim muitas vezes a pé. Dava apoio aos peregrinos”, contou. Hoje veio de autocarro, com bilhete comprado assim que soube que era permita a presença de fiéis nas celebrações.

Há um ano, quando a pandemia de covid-19 confinou o país e impediu a presença de peregrinos no santuário, Adelina Nunes não pôde estar em Fátima.

“Custou-me muito não vir. É aquela necessidade”, referiu, considerando Fátima “uma dádiva”.

Ao longo do recinto, ao qual vão chegando peregrinos, em grupos de muito menor dimensão do que no passado, são também visíveis outras cadeiras amarradas às grades, sinal de que mais fiéis querem garantir lugar nas cerimónias religiosas.

Maria da Luz Camarão, de 60 anos, da Póvoa de Santa Iria, chegou a Fátima após uma peregrinação feita por etapas.

“Não havia condições para dormir no caminho”, explicou a peregrina, habituada a percorrer os caminhos de Fátima, para cumprir uma promessa que fez “há 20 e tal anos”.

Impossibilitada de cumprir a peregrinação há um ano, Maria da Luz confessou a “enorme tristeza” que isso representou.

“É qualquer coisa que fica em falta”, considerou Maria da Luz, que soma lenços de Fátima entrelaçados na mala que carrega ao ombro.

O mesmo sentimento é partilhado por Fátima Araújo, de 58 anos, da Trofa (Porto).

“O ano passado foi muito triste, mas entendemos,”, afirmou a mulher, de um grupo de cinco peregrinos. Noutros anos eram habitualmente 40.

Acompanhada de duas das companheiras de viagem, Fátima Araújo relatou que foram poucos os peregrinos com os quais se cruzou na estrada e agora na cidade de Fátima.

“Nota-se muita diferença”, comentou, quem encontra no santuário paz.

No santuário, desde as 08:00, estava Luís Figueiras, de Portimão (Faro).

“Trouxe a cadeira e o guarda-chuva e chega”, afirmou, revelando que é o cumprimento de uma promessa a razão por que está em Fátima, que há 34 anos cumpre, tendo 2020 sido a exceção.

Também pela manhã, Lurdes Pessoa, de 62 anos, do concelho de Ourém (Santarém), já descia uma das escadarias de acesso ao santuário, com a cadeira na mão.

“Fica a cadeira a guardar praça”, declarou Lurdes Pessoa, justificando a decisão com a limitação de 7.500 pessoas nas celebrações que hoje começam no Santuário de Fátima.

Salientando que se desloca ao templo mariano todos os meses, Lurdes Pessoa explicou o que motiva a sua devoção: “Agradecer tudo o que tem feito”.

“Agarro-me a Ela e Ela ajuda-me”, referiu, recordando, emocionada, o filho, que também “esteve agarrado às máquinas do hospital”, tendo conseguido sobreviver.

A peregrinação, 104 anos depois dos acontecimentos na Cova da Iria, começa às 21:30 com a recitação do terço, seguida da procissão das velas e celebração da palavra.

Na quinta-feira, às 09:00 é recitado o terço, realizando-se depois a missa, que inclui uma palavra dirigida aos doentes, com as celebrações a terminarem com a procissão do adeus.

As celebrações deste 12 e 13 de maio vão ter um limite de 7.500 pessoas, um ano depois de, pela primeira vez na história do templo, as celebrações terem decorrido sem fiéis.

No recinto, os espaços que podem ser ocupados pelos peregrinos estão assinalados por círculos e em cada um poderão ficar apenas aqueles que pertençam ao mesmo agregado.