Rafael Reis (Glassdrive-Q8-Anicolor) viciou-se em ser o primeiro camisola amarela de cada Volta a Portugal e, hoje, em Lisboa, estreou-se a fazê-lo com a camisola de campeão nacional ao vencer o prólogo inaugural da 83.ª edição.

É já uma certeza a cada verão: as primeiras pedaladas da prova ‘rainha’ do calendário nacional servem para confirmar que Reis é o melhor contrarrelogista do pelotão nacional e, hoje, os 5,4 quilómetros totalmente planos junto ao Tejo, com partida e chegada na Praça do Império, não foram exceção, com o campeão nacional da especialidade a cumprir o exercício curto e intenso contra o cronómetro em 06.11 minutos.

“Eu este ano queria isto, porque andava atrás de uma coisa que era ser campeão nacional, e este ano consegui. Pensava que não ia conseguir, porque tive covid-19 e as coisas não me estavam a sair, mas naquele dia consegui ser o mais forte e, agora, queria ganhar aqui de campeão nacional, a representar as cores do nosso país. Foi muito bom para mim conseguir vencer hoje e amanhã [sexta-feira] vestir de amarelo”, resumiu o ‘rei’ dos prólogos da Volta a Portugal.

Num percurso tirado a ‘papel’ químico daquele que lhe deu a amarela no ano passado, o ciclista de 30 anos até fez um tempo (um segundo) pior e uma média mais baixa (em 2021, ‘voou’ a 52,541 km/h), mas os 52,399 km/h a que pedalou bastaram para bater, novamente, o colega Mauricio Moreira, outra vez segundo, agora a nove segundos – o uruguaio ficou ‘empatado’ com o terceiro, o britânico Oliver Rees (Trinity Racing).

Enquanto esperava, sentado diante das câmaras que ‘espiavam’ as suas reações, Reis parecia duvidar que a vitória seria sua e que seria o dono da primeira amarela, como aconteceu em 2016, 2018 e 2021, por sentir que podia ainda ter ‘andado’ um pouco mais.

Com a sua descontração habitual, ia dizendo não querer entrevistas antes do final do prólogo, para não dar “azar”, falando do fato de campeão nacional - “é bonito, não é? -, pedindo equipamento ao massagista, num ritual que se prolongou até o espanhol Jokin Murguialday (Caja Rural), último dos 124 ciclistas que foram para a estrada, cruzar a meta.

A festa (comedida) de Reis foi, depois, partilhada por Moreira, satisfeito por, apesar “das sensações estranhas”, ter sido segundo e ter um colega de amarelo.

“Não sei se sou o principal favorito, mas sinto que posso estar na disputa da Volta”, declarou o vice-campeão de 2021, após ter superado com distinção o primeiro teste.

O uruguaio não é, contudo, o único a ter motivos para festejar: num prólogo que primou pela consistência – curiosamente, também o russo Aleksandr Grigorev (Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel) repetiu o nono lugar da passada edição -, Tiago Antunes e Henrique Casimiro, ambos da Efapel, foram os melhores dos ‘outros’, na quinta e sexta posições, respetivamente a 12 e 13 segundos.

Se Joaquim Silva (Efapel) foi um surpreendente 20.º, a 20 segundos, Frederico Figueiredo (Glassdrive-Q8-Anicolor) e Delio Fernández (Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel) demonstraram mais uma vez que são os candidatos que pior se dão na luta contra o cronómetro, perdendo mais de 30.

Já Alejandro Marque (Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel) e Vicente García de Mateos (Aviludo-Louletano-Loulé Concelho) cederam, respetivamente, 24 e 25 segundos para o vencedor do prólogo, uma diferença que se atenua quando as contas são feitas para Moreira.

Reis vai prolongar na sexta-feira o seu mês e meio de sonho, que começou com o título de campeão nacional, continuou com a conquista do ouro no contrarrelógio dos Jogos do Mediterrâneo e prossegue na primeira etapa da 83.ª Volta a Portugal, uma ligação plana, mas quente de 193,7 quilómetros entre Vila Franca de Xira e Elvas.