O teletrabalho vai continuar a fazer sentido e os escritórios já estão a ser alvo de reestruturações para a retoma.

Se há coisa que a pandemia da Covid-19 mudou foi a forma de trabalhar, principalmente para quem, até então, ia religiosamente para o escritório todos os dias. Neste contexto, surgiu uma nova realidade para muitos – o teletrabalho. Este regime foi imposto pelo Executivo de António Costa na tentativa de combater o desenvolvimento da pandemia - e é obrigatório para todo o território nacional até dia 16 de maio. E depois da pandemia, como será voltar ao trabalho nos escritórios? Continuarão as pessoas em teletrabalho ou haverá um regime flexível? Cada empresa definirá as suas regras, mas várias já dão pistas sobre como será o trabalho num futuro pós-pandémico.

A tecnológica portuguesa OutSytems tem todos os trabalhadores em teletrabalho – não só os que exercem atividade em Portugal, mas também nas outras 12 cidades espalhadas pelo mundo. E depois da pandemia, poderão optar por continuar a trabalhar a partir de casa ou onde quiserem. Ao Jornal de Negócios, a vice-presidente da OutSytems, Alexandra Líbano Monteiro, revela que "as pessoas poderão escolher trabalhar em casa, num café local tranquilo ou no escritório". Os espaços de trabalho da empresa tecnológica “serão redesenhados e alvo de reestruturações", privilegiando os "espaços de colaboração e de ‘brainstorming’", revelou.

Também a consultora Mazars, que emprega 200 pessoas entre Lisboa, Porto e Leiria, já fez "algumas transformações" nos escritórios, de forma a aumentar os espaços de trabalho e adotar a política de ‘clean desk’. Luís Gaspar, diretor da empresa, assume ao mesmo jornal que “o futuro será previsivelmente num regime misto, promovendo um equilíbrio entre a necessidade de contacto e formação das equipas, nomeadamente dos ‘new joiners’, os processos nas instalações dos clientes e o trabalho recorrente que seja possível realizar à distância”.

A EDP também já definiu que o futuro do trabalho na empresa - para funções compatíveis com o teletrabalho - vai decorrer num modelo híbrido, no qual será permitido teletrabalhar pelo menos dois dias por semana. E assume ainda que, enquanto o risco de contágio se mantiver, o regresso aos escritórios será voluntário.

Componente presencial é “essencial”

Nem todas as empresas estão focadas em desenhar modelos híbridos. Na Dourogás, os esforços estão concentrados para o regresso ao escritório, que, segundo conta Nuno Moreira, CEO da empresa, “implica aspetos como a organização das equipas, dos equipamentos e dos próprios locais de trabalho". Ainda assim, admitiu, citado pela publicação, que a empresa está "em condições de continuar com o teletrabalho”.

Fontes oficiais da Siemens revelaram ao mesmo jornal que a empresa já está a preparar o regresso ao escritório, de forma faseada, que pode mesmo começar já em maio. Ainda assim, o teletrabalho deverá manter-se nos próximos meses para os 700 trabalhadores (de um total de 2.887) que optaram por este modelo.

Estar no escritório de forma presencial é "essencial para o desenvolvimento da cultura da organização, para a criatividade e a dinâmica inovadora", argumenta Fernando Rodrigues, diretor da Axians Portugal, em declarações ao mesmo jornal. E explica ainda que apesar da empresa ter ao "dispor as melhores tecnologias de comunicação e colaboração, o filtro digital (...) anula parte do potencial que temos enquanto seres sociais".

Também Cláudia Lourenço, diretora-geral da Procter & Gamble em Portugal, assume que o “contacto presencial é também muito importante, não só para quem já está" na empresa, "como para os novos colegas que se juntaram em 2020 e 2021”. Mas não esconde que há a “certeza de que" se conseguiu "atingir resultados independentemente de onde" se trabalha.

Também a Infraestruturas de Portugal, que tem hoje 1.400 pessoas em teletrabalho num universo de 3.665, "considera promover, assim que possível, o regresso gradual ao regime presencial". Para a empresa pública, "esta retoma é sentida como essencial para se irem restabelecendo níveis de interação entre as pessoas, fundamentais para o sentido de pertença a uma organização”. Mas não descarta considerar alguma flexibilização desde que a produtividade dos trabalhadores não seja afetada.

 

Por: Idealista