A Associação Almargem emitiu um parecer desfavorável sobre o Estudo de Impacte Ambiental da Central Fotovoltaica de Alcoutim que esteve recentemente em discussão pública.
Em causa está a construção de uma megacentral solar, que implica a ocupação e destruição completa de uma área de Serra com 600 hectares e a instalação de cerca de 2,4 milhões de painéis fotovoltaicos, para produção de 220 MW de energia elétrica, mais de quatro vezes a potência instalada na Central Solar da Amareleja.
Como é óbvio, a Associação Almargem apoia o incremento dos sistemas de produção de energia não dependentes de combustíveis fósseis. Porém, para cada situação, é necessário pesar todos os prós e os contras. Num território como o Algarve, é preferível que se opte por implementar centrais solares mais pequenas, em zonas agrícolas abandonadas ou sem valor conservacionista, perto dos locais de consumo, onde todos os intervenientes possam ter benefícios e os impactes negativos sejam consideravelmente muito mais reduzidos.
No caso da Central Fotovoltaica de Alcoutim, trata-se de ocupar um território onde a orografia é extremamente acidentada e desadequada para um projeto deste tipo. Para além disso, existem aí núcleos de grande importância arqueológica mas ainda pouco estudados, assim como valores naturais e paisagísticos a preservar. Em especial, está aqui em causa a destruição de vários habitats protegidos por legislação nacional e comunitária, bem como o abate de milhares de sobreiros e azinheiras, espécies protegidas por lei, para além da morte inevitável de muitos milhares de exemplares da fauna terrestre presente no local.
Simultaneamente, considera-se incompreensível que a tecnologia prevista para esta megacentral esteja já um pouco obsoleta, existindo equipamentos mais eficientes no mercado, capazes de produzir a mesma quantidade de energia mas num horizonte territorial mais reduzido, o que inevitavelmente iria ajudar a diminuir o respetivo impacte ambiental.
Um outro aspeto relevante tem a ver com a afetação direta de um sector da Via Algarviana, entre Vaqueiros e as Furnazinhas, o que certamente provocará uma menor procura por parte dos potenciais caminhantes nada interessados em ter de atravessar uma instalação industrial desta dimensão, com graves repercussões para a economia local das povoações em causa.
Por outro lado, o investimento financeiro previsto de mais de 200 milhões de euros, destina-se essencialmente à aquisição de equipamento importado, não se prevendo um contributo económico ou social muito significativo para a zona de Vaqueiros, Martim Longo e Alcoutim.
Finalmente, a Associação Almargem entende que as medidas compensatórias previstas são absolutamente irrisórias e desajustadas face à dimensão do projeto, tendo também existido uma grande carência de informação relativamente aos contornos que o envolvem e, em particular, no que respeita à desconhecida empresa promotora, detentora de um capital social diminuto e que preferiu não dar a cara pelo projeto perante as populações da zona afetada.
Por Almargem