Poesia | CIGANA POETA

11:07 - 10/02/2016 OPINIÃO
POESIA por Ofélia Bomba

Tenho uma alma inquieta

É uma alma cigana

Mas é cigana-poeta

 

Como ela poder, partir,

Descalça, pela estrada,

Sentir-me a dona do mundo,

Do tudo e mesmo do nada.

 

Ser-te fiel no amor

E amar-te, sem reservas,

Tendo por tecto as estrelas

E a cama feita de ervas.

 

Desfazer a minha trança

Sobre o teu peito moreno,

Guardar na minha lembrança

Teu cheiro de terra e feno.

 

Juntar, no mesmo galope,

O teu e o meu coração

E voltar, sempre, a amar-te

Em cada reencarnação.

 

Poder cantar meus poemas

De noite ou à luz do dia

Poder chorar se estou triste

E rir se tenho alegria.

 

Poder sonhar, sem entraves,

E ter toda a liberdade,

Partir e voltar, mil vezes,

Sem nunca sentir saudades.

 

Sou alguém insatisfeito

Que vive na ilusão.

Podem prender o meu corpo

Mas a alma? Essa não!

 

São as pesadas amarras,

Com que vivo dia-a-dia,

Que me levam a pisar

O mundo da fantasia.

 

Tenho uma alma inquieta,

É uma alma cigana

Mas é cigana-poeta!

 

 

NOTA

"Cigana Poeta" é um dos poemas com que Ofélia Bomba, médica psiquiatra e vice-presidente da Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa de Escritores e Artistas Médicos (SOPEAM) participou no Congresso da União Mundial de Escritores Médicos (UMEM) em Benodet, França, em Setembro de 2015.