Um Certo Islão / O Eminente Molestador

13:09 - 04/04/2016 OPINIÃO
por Miguel Duarte | Escritor, DJ e Tradutor | jmduarte.md@gmail.com

1) Quando em 2010 se deu início ao movimento que ficaria conhecido como Primavera Árabe, logo das cúpulas Ocidentais jorrou, mal contida, a esperança de se estar perante uma nova era nas relações entre o mundo Árabe e o Ocidente, alicerçada num amplo movimento de democratização.

            No papel as contas batiam certo: derrubados os regimes autoritários, que outra forma assumiria a tão ansiada mudança que não a da democracia? Mas, chegados a 2016, diz-nos o índice da Freedom House que apenas 2 estados na região se podem considerar livres, entre 4 parcialmente livres e 16 não-livres.

            Ora, não é o EI um caldeirão de ressentimento no seio do Islão, do qual os recentes atentados na Europa são a expressão extrema, ainda que minoritária, de uma cultura cada vez mais fechada em si?

Vários factores explicam o surgimento de terroristas na Europa. Podemos nomear problemas de integração, descoordenação das polícias, a crise, fragilidades políticas, etc. Tudo isso é verdade. Mas a auto-censura não pode ser ópio e cura. Falta-nos olhar também para um certo Islão que, à boleia do nosso comodismo político, visa espetar a sua bandeira no coração dos valores ocidentais. E se ao Ocidente cabe a tarefa de preservar, perante as mortes, os supremos valores da democracia, liberdades e direitos contra o avanço de uma extrema direita loura e carcereira e a já senil extrema esquerda que, confundindo explosões com o rufar da Internacional, logo surge a cantar o amor ao Comintern, ao islamismo cabe elevar o discurso para lá do refrão “o Corão é amor.”

O refrão é real, mas a matança em nome do Islão também. Assim como o facto de nos países islâmicos, onde esta ideologia permeia todos os níveis da cultura, política e sociedade, existir uma aversão crónica à democracia, ao estado laico, às liberdades, aos direitos das mulheres. Este último, por si só, é central para desbloquear qualquer pretensão de modernidade que o Islão possa ter. Sem essa capacidade de análise e reforma, alarga-se o fosso civilizacional.

 

2) Chocante ver uma sala cheia a aplaudir um condenado por pedofilia, com a benção das potestades de pacote que singram por cá. Fica o abraço sentido do Ministro da Cultura àquele ‘benemérito’ da Casa Pia. E D. Januário, representante de uma igreja arrasada por escândalos de pedofilia, a babujar encómios sobre o nosso mais eminente molestador. Um mimo.