Presidente da Câmara Municipal de Lagoa aguarda disponibilidade de Secretária de Estado para resolver problemática de poluição visual que mancha uma das entradas de Lagoa
Francisco Martins, presidente da Câmara Municipal de Lagoa, falou em exclusivo com o jornal «A Voz do Algarve» a propósito da problemática que há três meses “tisna” uma das portas de entrada de Lagoa, onde se encontra um parque de “sucata”, visível a quem passa na estrada ou visita o Pavilhão do Arade. Por sua vez, o próprio Pavilhão do Arade – Centro de Congressos do Arade, tem sido uma preocupação para este Concelho, que se esforça por tornar sustentável este equipamento que devia ser “de todo o Algarve”.
A Voz do Algarve – Um parque, localizado à entrada da cidade, onde se encontram uma série de veículos inutilizados, tem sido um dos mais recentes problemas no Concelho de Lagoa. A quem pertence esse terreno?
Francisco Martins – O terreno pertence ao Ministério da Defesa, sendo propriedade da GNR. Antes pertencia à Docapesca, posteriormente passou para outra tutela. O que se passa é que foi ali criado um parque que acolhe todos os veículos abandonados e apreendidos pela GNR. Estamos a falar de barcos, motas, caravanas, carros… ou seja, está ali um parque de sucata, com carros partidos e desmontados, que causa um grande impacto visual. Estamos a falar da entrada do Concelho, uma zona nobre, que, do ponto de vista turístico, tem a maior importância. Mesmo ao lado deste terreno está o maior Centro de Congressos do Algarve, que agora tem uma vista fantástica para a sucateira. Todo o enquadramento daquele “parque de sucata”, a que eu não consigo dar outro nome, por muito que isso possa ofender quem tem a tutela, cria um impacto terrível. Nós tivemos essa prova há poucos dias, quando decorreu o Lagoa Wine Show, um evento que já é uma marca para o nosso Concelho, e víamos as pessoas que se encontravam no terraço a apontar o dedo precisamente para esses veículos.
V.A. – De que forma se pode resolver essa situação? Quais são os passos possíveis para solucionar o problema?
F.M. – O que a Câmara deseja é que a situação se resolva, deixando de estar às portas de Lagoa. Os primeiros passos já foram dados, através de vários contactos com os responsáveis pela matéria, nomeadamente com o Secretário de Estado José Apolinário, que era, na altura, quem estava à frente da Docapesca, com a GNR e tenho reuniões pedidas com a Secretária de Estado que tem a tutela daquele espaço. Estou ainda à espera que essa reunião me seja concedida e vou continuar a insistir. A nossa disposição é encontrarmos, em conjunto, uma alternativa. Eu ainda não posso apontar uma alternativa, porque também não sei quais são as necessidades que eles têm, mas estou disponível para que consigamos encontrar essa solução. Estamos a falar da recolha de viaturas apreendidas de todo o Algarve! Eu já não me oponho que seja feito no meu Concelho, mas temos que escolher um sítio melhor. O planeamento é muito simples: por um lado, saber onde vamos colocar os equipamentos em função das necessidades e, por outro, avaliar o impacto que gera qualquer equipamento que se cria.
V.A. – Há quanto tempo está o parque naquele local? Quando surgiu este problema?
F.M. – O problema começou no dia 24 de março e foi a partir daqui que começaram os contactos. O terreno é propriedade da GNR já há algum tempo e já lá estavam algumas viaturas ligadas à Guarda Fiscal, mas estavam escondidas, não tinham tanto impacto visual. Nós sabíamos que lá estavam e tínhamos a perceção de que seria uma coisa transitória. Estamos neste momento a colaborar com a GNR no sentido de criar algumas barreiras para quebrar o impacto visual, mas é nossa intenção que isso seja sempre uma situação transitória. Mas eu confesso que tenho sempre muito medo dessas situações transitórias, porque chegam a demorar anos para se resolverem e passam com muita facilidade a definitivo. O mais caricato é que, de todas as pessoas com quem falo, não há nenhuma que apareça com uma solução ou que diga que aquilo está bem. E se todos estamos de acordo que é algo que está mal, por que razão não se muda? Uma coisa era se houvesse divergência de opinião ou não houvessem alternativas, mas neste caso existem alternativas e não há divergências de opinião, por isso não percebo.
A autarquia estaria disponível para ceder outro terreno onde esse parque se pudesse localizar?
F.M. – Nós estaríamos disponíveis inclusive para ceder noutras áreas. Temos outras zonas no Concelho, mais escondidas e que não têm impacto visual. Claro que existiria o tratamento do solo e seria feito o possível para minimizar o impacto do ponto de vista ambiental, mas essas soluções existem. Agora temos que ver é a disponibilidade da senhora Secretária de Estado para discutir esta questão.
Qual é a posição da GNR? Também querem mudar de local?
F.M. – Eles também querem uma solução. Têm um problema em mãos: apreendem as viaturas e têm que guardá-las. Penso que da parte da GNR haverá sempre disponibilidade, até porque eles querem é ter condições, nomeadamente de segurança. Por esse motivo, não vejo que haja aí uma barreira, portanto o que falta é disponibilidade da senhora secretária de Estado.
V.A. – O Pavilhão do Arade é o resultado de uma parceria entre várias entidades, municípios e particulares. Explique-nos um pouco como funciona esta parceria.
F.M. – O Pavilhão do arade é resultado de uma parceria entre a RTA, quatro municípios do Arade (Lagoa, Sines, Portimão e Monchique) e uma série de particulares, como o Grupo Pestana, o Grupo Tivoli, Casinos do Algarve, Marinas, etc. Trata-se de uma sociedade por quotas, cuja sócia maioritária é a RTA e o segunda a Câmara Municipal de Lagoa. Os públicos têm 51% e os particulares o restante. Esta era uma ideia nobre, com o objetivo de dotar o Algarve com um Centro de Congressos, que é extremamente bem equipado e com fácil acessibilidade desde qualquer ponto do Algarve. Mas, ao longo dos anos, com a crise, surgiram alguns erros ao nível de gestão, de tal modo que chegámos a um ponto em que a sobrevivência do espaço ficou em causa.
V.A. – Quais são os custos para manter o Pavilhão do Arade? E o que tem sido feito concretamente para dinamizar o espaço? Quantos eventos, em média, são feitos por ano?
F.M. – O Pavilhão do Arade, para ser autossustentável em termos de custos, precisa de cerca de 100 mil euros anuais. E o que temos feito, desde que eu cá estou é apostar na promoção do espaço, que está disponível para ser alugado tanto por outras autarquias, como por particulares, e isso tem resultado. Temos desenvolvido uma série de iniciativas para dar visibilidade. Vê-se que isso tem sido uma boa estratégia, porque a procura e o número de cedências do espaço tem aumentado. O que nós queremos nesta primeira fase é que o espaço seja sustentável. E hoje em dia, tem estado a ser autossuficiente, com uma procura que ultrapassa bem uma centena de eventos por ano. É raro o mês em que não acontece alguma coisa e, normalmente, o que acontece tem impacto. O espaço tem vindo a crescer em termos de notoriedade e são milhares as pessoas que passam anualmente por este pavilhão.
V.A. – Que tipo de eventos são organizados no Centro de Congressos do Arade?
F.M. – Temos de tudo. Feiras, exposições, agora temos tido em permanência uma galeria de arte e vamos ter lá também uma exposição de insetos. Também já tivemos exposições de carros e até casamentos. Também dá para fazer jantares, festas… Tem muitas salas e que se podem adaptar conforme o número de pessoas.
V.A. – Considera que a divulgação que é feita atrai turismo?
F.M. – Sim. A Câmara de Lagoa tem feito uma aposta muito grande em termos de promoção do Concelho em feiras internacionais e uma das coisas que nós levamos sempre é o Pavilhão do Arade. Além disso, a Sociedade Pavilhão do Arade tem agora um PER, que prevê a contratação de duas pessoas, uma delas para a promoção do espaço. Costumamos ter, também, em todos os eventos que ali realizamos, a colaboração dos nossos hoteleiros. Outro bom exemplo é a exposição patente neste momento, que é organizada por um senhor alemão e que tem recebido muitos visitantes estrangeiros.
V.A. – Os outros municípios que fazem parte do Arade também fazem essa promoção e realizam eventos no Pavilhão?
F.M. – Muito sinceramente, quem faz ali alguma coisa, maioritariamente, é o município de Lagoa e alguns particulares. A questão é que todos dizem que o Algarve é uma marca, mas uma coisa é dizer e outra é sentir. O Algarve tem muitos concelhos, mas sem ser Lagoa mais nenhum vem fazer eventos no Pavilhão do Arade. Temos que sentir o Algarve e toda a sociedade tem que ver o Algarve como um todo. Nós somos pequenos, periféricos e queixamo-nos muito, mas chorar o sentimento não nos leva a lado nenhum. Além do Pavilhão do Arade, nós temos equipamentos na região, como por exemplo o Estádio do Algarve, que está subaproveitadíssimo e com uma carga enorme para dois municípios, que deviam ser de todo o Algarve. Temos que pensar e sentir o Algarve como um todo e não só apregoá-lo. Quando nós tivermos essa disponibilidade e capacidade para o fazer, vamos dar um salto muito grande. Quando no Algarve houver a mesma união que existe, por exemplo… no Porto, aí contem connosco.
V.A. – E o que falta para isso acontecer?
F.M. – Sobretudo falta alguém. Falta liderança e protagonismo.
V.A. – E onde se poderia encontrar esse líder?
F.M. – Eu não sei onde o poderíamos encontrar. Por acaso falei do Porto, que tem lá agora o presidente Rui Moreira, mas já se fala do Porto há anos. Tem o Pinto da Costa ligado ao desporto e já tivemos o Belmiro de Azevedo, ligado à indústria. Líderes há muitos e em vários sectores, que se destacam muitas vezes por uma questão de personalidade. Muitas vezes um líder é um rosto, e por detrás dele está uma equipa, que o suporta. Mas, mais importante que escolher um líder, é ver quem tem a disponibilidade para pensar no Algarve como um todo. Um líder surge naturalmente. Mas o que eu estou a dizer, todos dizem. Mas ninguém dá o primeiro passo. Algum dia alguém dará esse passo, embora não se saiba quem, nem quando. Por agora, continuo a achar que nós não sentimos o Algarve como um todo, cada um puxa para si. Temos muitos eventos no Algarve, de enorme qualidade e que exigem um esforço tremendo, mas o que temos de pensar é: o que é estruturante e o que atrai mais visitantes. As autarquias e os empresários têm que estar alinhados. As Câmaras não têm hotéis nem restaurantes, mas tem que criar condições para que haja dinâmica económica no Concelho. Nós não estamos à procura do lucro, procuramos sustentabilidade futura.
Por: ND