«O sucesso de uns incomoda a pequenez dos outros»

11:39 - 07/06/2016 OPINIÃO
por Nuno Vaz Correia | nunovazcorreia@gmail.com

Loulé assiste a uma desenfreada tentativa do atual executivo de querer fazer mais “cultura” do que o anterior.

Nem que se tenha de destruir tudo o que existia, como os povos antigos que acabavam com todas as manifestações culturais dos derrotados, para poderem facilmente moldar o pensamento do povo.

Por isso em Loulé assiste-se a uma demanda necessária a bem do povo, não fosse a esquerda louletana e portuguesa a única inteletualmente capaz de produzir a verdadeira cultura. A realidade é que, culturalmente, só não fizeram questão de mudar as manifestações que por serem centenárias ou suficientemente enraizadas na comunidade não se atrevem a mexer nelas, como o Carnaval ou a Festa da Nossa Senhora da Piedade.

No que diz respeito às manifestações mais recentes…os maus exemplos são muitos. Tudo o que foi feito não prestava e por isso tinha que ser mudado. Veja-se o Sa(l)ir do Tempo, um evento com grandes potencialidades, feito no interior do concelho, que está a definhar de ano para ano. Veja-se a Noite Branca que deveria ser uma noite de glamour, sofisticação e experiências sensoriais com um toque de magia no ar. Em 2015 a Noite Branca voltou e foi um sucesso de participação, mas a sua essência, o seu glamour, a sofisticação, esses não voltaram. Passámos a ter uma noite patrocinada por bares e discotecas (de fora do Algarve) que vieram ganhar mais algum dinheiro à custa de quem cá trabalha na área durante o resto do ano. No seu ímpeto revisionista transformaram a Noite Branca numa noite de concertos à borla com bares explorados por discotecas de Lisboa. A magia das outras noites brancas acabou.

Depois temos o Festival MED (vou falar do MED, que sacrilégio). A necessidade de mudar trouxe-nos provavelmente a pior edição de sempre do MED em 2014, com as ruas confrangedoramente desertas perto da meia-noite, por muitas desculpas que tivessem arranjado, quem, como eu, esteve em todas as edições viu o quanto mau foi.

Se em 2014 a necessidade revisionista teve resultados desastrosos, em 2015 arrepiaram algum caminho e o Festival foi um sucesso. Mas atentem que disse apenas Festival e não Festival MED. 2015 pode ter marcado o início do fim do Festival MED com as opções ‘culturais’ tomadas pelo executivo. O Festival MED tem nas músicas do mundo a sua base, nas tradições seculares do mediterrâneo a sua essência e na contracultura mainstream o seu espaço de afirmação. Em 2015 tivemos um Festival com um palco dedicado à música rock alternativa e à música chamada de rockabilly. Pior, foi possível assistir a concertos de metal/hardcore num palco do Festival, onde o cantor se jogava do palco para cima do público presente.

Espero que este ano seja diferente. Não só porque estão a desbaratar o trabalho feito pelo anterior executivo que colocou o Festival MED entre os melhores festivais nacionais, mas também porque sinto, como a maioria dos louletanos, que este festival é meu, é nosso, e não podem ser as necessidades de afirmação do atual regime politico a estragar algo que nos orgulha.

Mas algo me diz que o problema este ano vai ser a cultura do quintalinho. É uma bizarra coincidência que depois de o ano passado o município de Faro ter iniciado com sucesso o 1º Alameda Beer Fest, no primeiro fim-de-semana de julho (para não coincidir com o Festival MED), este ano, em Loulé, tenham atrasado o Festival uma semana para calhar exatamente nos mesmos dias da 2ª edição do Alameda Beer Fest, quando em 12 edições do MED em apenas duas (2005 e 2006) o festival foi realizado no início do mês de julho e numa altura em que durava 5 dias. Coincidência!? Como diria o psicólogo e escritor Gasparetto: “O sucesso de uns incomoda a pequenez dos outros”.