Hillary Clinton, Donald Trump e o Fim da História?

12:22 - 14/10/2016 OPINIÃO
po: Diogo Duarte | Jurista, Licenciado em Direito e Mestrando em Direito Internacional | diogoduarte@campus.ul.pt

Talvez o Fim da História, de Francis Fukuyama, passe dos cadernos de filosofia política para a realidade quotidiana norte-americana. O declínio ideológico dos Estados Unidos da América evidencia-se, e intensifica-se, em cada debate da corrida presidencial.

A carência de políticas sólidas, tanto a nível interno, quanto a nível externo, são o claro sinal de que os Estados Unidos da América vivenciam um dos seus piores momentos democráticos. Não só o debate atingiu um tom demagógico e corrompido pelo patriotismo exaltado, como as candidaturas de Hillary Clinton e Donald Trump representam, mutuamente, uma péssima alternativa entre si.

Por um lado, Hillary Clinton, mais experiente no campo político, demonstra-se incapaz de lidar com o populismo crescente de Donald Trump. Por seu turno, o candidato republicano apresenta um discurso especialmente perigoso, assente em visões altamente xenófobas e preconceituosas, fortemente enviesadas e sem correspondência ao mundo interconectado e interdepende em que vivemos presentemente.

Seja como for, e sem que se ignore as candidaturas do libertário Gary Johnson e da ecologista Jill Stein, os Estados Unidos da América parecem próximos do Fim da História.

A fragilidade civilizacional norte-americana está patente ao analisar-se as questões de política internacional com que um dos candidatos se confrontará ao assumir, já em novembro, o rumo futuro dos Estados Unidos da América.

O legado, reconhece-se, não é fácil. Além da lenta recuperação económica que o país atravessa, sobretudo no mercado bolsista, o próximo presidente norte-americano terá que lidar com a pressão dos mercados sobre o dólar, em consideração da crescente importância do iene, enquanto moeda de reserva.

 No plano geoestratégico e geopolítico, os Estados Unidos da América defrontam-se com dois problemas provindos do Oriente. Em primeiro lugar, a particular situação da Síria e do combate ao terrorismo exigem um planeamento estratégico bastante estruturado e eficaz, incompatível com a indefinição atual das políticas externas norte-americanas. Em segundo lugar, o caso Crimeia, continua a inspirar cuidados fase às aspirações russas. Vladimir Putin é um forte “player” em política externa, não sendo de subestimar que, à semelhança de qualquer outro país, também a Rússia se pretenda posicionar internacionalmente.  

A crise energética, ditada pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), constitui uma ameaça ao nível da economia de recursos norte-americana, deixando o país à mercê da importação de combustíveis fósseis. Este cenário favorece as potências regionais, nas quais o Brasil, Rússia, Índia, China, e África do Sul (BRICS) mais se destacam, pela sua competitividade, dificilmente alcançável pelos norte-americanos.

A sobre-exploração dos recursos naturais e o aquecimento global, até agora negligenciados pela indústria norte-americana, constituirão, de ora em diante, sérios entraves ao próprio desenvolvimento do modelo económico norte-americano. Consequentemente, aumentará o recurso à importação, levando a uma massiva fuga de capital ou relocalização das grandes empresas, com as já conhecidas consequências sociais.

Por tudo isto considerado, não surpreende que o Fim da História seja, mais que uma metáfora, uma realidade concreta, brevemente anunciada. O esforço que incube à presidência norte-americana para os próximos anos não se coaduna com o circo mediático gerado em torno das eleições presidenciais.