A Central Eléctrica de Quarteira

10:08 - 20/11/2016 OPINIÃO
por João Carlos Santos | Licenciado em Patrimónico Cultural - Historiador | jcsantos87@gmail.com

Nos anos 50/60, a questão da iluminação na praia de Quarteira, gerou uma querela bastante acentuada entre a Autarquia e a Junta de Turismo de Quarteira, e merece a nossa especial atenção neste artigo. Nos Relatórios de Gerência da Junta de Turismo de Quarteira, constatámos no ofício de 23 de Dezembro de 1951, que o Presidente da Junta de Turismo de Quarteira, o Dr. António Trindade Mascarenhas envia para o Presidente da Câmara de Loulé, que a mesma Junta de Turismo há dezanove anos detinha a gestão da Central Elétrica e respetiva rede de distribuição, fazendo questão de confirmar a sua legalidade. Nestas linhas podemos perceber a importância da junta Fig. 1, Dr. António Trindade Mascarenhas de Turismo de Quarteira. Este organismo dedicado ao desenvolvimento turístico desta povoação, detinha maior influência e competências do que, propriamente, a Junta de Freguesia de Quarteira. De tal forma que a distribuição da eletricidade era levada a cabo estes equipamentos pertencentes à dita Junta, mas fazendo uso de dinheiros públicos para o seu funcionamento, leia-se o seguinte: "A Central Elétrica era propriedade da Junta de Turismo que a geria com subsídio da Câmara de Loulé. Em 1949 o subsídio da Câmara foi de 2400$00."

Uma pequena nota informativa proveniente do Jornal Correio do Sul, na edição de 15 de Maio de 1952, dá-nos conta de uma avultada quantia para remodelação, ampliação e substituição da rede de baixa tensão da central elétrica. Em 1957, a quando do Plano de Atividade Turística da Junta de Turismo de Quarteira para o respetivo ano, temos acesso à seguinte informação, leia-se: "Esta Junta propõe-se a curto prazo prolongar a iluminação pública para lá das 24 horas, proporcionando grandes benefícios a toda a população e especialmente à desprotegida classe piscatória."


No entanto a Câmara Municipal de Loulé mantém-se reticente em aceitar esta pretensão da Junta de Turismo, pretendendo o seguinte: "submeter os propósitos camarários a um estudo, a fim de se poder pronunciar, sem quebra dos seus direitos, e interesses, locais e institucionais". Esta querela entre a Junta de Turismo de Quarteira e a Câmara Municipal de Loulé, pela gestão e administração das instalações da Central Elétrica de Quarteira, não seria célere prolongando-se por um grande período de tempo. Em 1958 o consultor técnico da Câmara, J. Farrajota Ramos a propósito da eletrificação de Quarteira propõe a seguinte solução: "Se a Junta de Turismo de Quarteira tem interesse em ver resolvido o seu problema da eletrificação da freguesia, deve entregar gratuitamente à Câmara as instalações elétricas que possui, para que as mesmas sejam melhoradas e ampliadas, de modo a ficarem em boas condições, a contento e beneficio do público".  A Câmara Municipal de Loulé deu seguimento deste parecer à Junta de Turismo onde acrescentava a pretensão em assumir a distribuição de energia elétrica na Praia de Quarteira. Em 8 de Novembro de 1958  apresenta um ultimato: "Ou a distribuição de energia é feita pela Câmara de Loulé ou então a Junta de Turismo de Quarteira, entende-se com a CEAL, pois aqueles serviços entendem, e muito bem, que não tem justificação a  existência de um fornecedor intermediário na distribuição de energia elétrica a essa povoação".

De todo este processo, o vencedor é a Câmara Municipal de Loulé, e no dia 5 de Agosto de 1961 é inaugurada a luz elétrica com carácter permanente em Quarteira. Em 6 de Agosto de 1961 o Jornal “A Voz de Loulé”, escreve: "Muito nos regozijamos por que este problema tenha sido finalmente resolvido e felicitamos a Câmara de Loulé pelas decisões tomadas para ultimar os trabalhos que permitiram a concretização da obra que há muito se impunha como absolutamente imprescindível ao progresso da nossa praia e comodidade de quantos ali vivem ou simplesmente passam o verão".

O equipamento não apresentava condições para fornecer este serviço à comunidade, leia-se: "No passado dia 5 a rede de distribuição de energia elétrica de Quarteira ficou, finalmente, ligada à rede da CEAL, o que pôs fim aos fornecimentos “a prestações” há longos anos facultadas pela velha central termo-eléctrica, agora posta de parte. Também já estão sendo colocados os postes para substituição gradual da rede que já está velha e por isso não oferece a conveniente segurança. Segundo nos consta, a Câmara de Loulé está também empregando os seus melhores esforços no sentido de que a contagem do consumo do corrente mês seja já feita pelos escalões em vigor no resto do concelho." Chegamos à conclusão que esta questão da energia elétrica em Quarteira, findou devido ao cenário insustentável que a própria apresentava, pois, assemelhava-se a um lamentar prolongado à espera de um merecido fim, que só por casmurrice não aconteceu mais cedo, desta forma, evitando o harmonioso desenvolvimento de Quarteira.