O Porto de Faro sem navios e a exploração de gás no Algarve

12:12 - 07/12/2016 OPINIÃO
por António Costa | autor do blog Mar e Marinheiros | maremarinheiros.blogspot.pt

Há dias o insuspeito mídia “A Voz do Algarve” publicou um apontamento muito lúcido a partir de uma entrevista ao CEO da Partex Oil and Gas, sobre a exploração de gás natural no Algarve, projeto consorciado com a Repsol, mas atualmente suspenso.

Afirmou Costa Silva, “Este recurso seria a primeira onda de desenvolvimento de recursos marinhos do país”, para mais à frente acrescentar: “Asfixiar este projeto é, no fundo, asfixiar a questão do mar em Portugal no futuro”.

Não querendo lançar achas na fogueira, com tanta contestação por parte de algumas organizações ambientalistas (leia-se, extremistas), a exploração de gás, o hidrocarboneto mais limpo e que importamos cada vez mais para a produção da energia de que tantos (todos?) precisam, poderia ser uma ajuda à irradicação do nosso eterno défice na balança de pagamentos externa.

Os argumentos usados pelos que estão contra são vários mas, na minha opinião, facilmente rebatíveis. Se não, vejamos:

“Os turistas que nos visitam no Algarve não querem estar na praia a ver plataformas e trabalhos de prospeção”. Pois, mas o projeto apresenta-se com a instalação de poços a cerca de 40 a 50 quilómetros da costa, em frente a Faro. Da costa ninguém irá ver, seja o que for.

“A exploração (petrolífera) irá sujar as praias e deixar cheiros incómodos”. Mais uma vez se pretende confundir. A exploração não é de petróleo. Não irá aparecer crude nas areias das praias.

A maior parte das pessoas esquece-se que o Algarve é visitado, no verão, por uma população flutuante de vários milhões de pessoas, superior em 20 vezes à população algarvia. Estas pessoas provocam uma carga muito elevada nas estruturas da região, nomeadamente, consumo de água e energia, para além da sobrecarga nos efluentes (esgotos, ETAR’s, etc.). Então isto não é poluição? E a energia que consomem fica mais limpa por ser importada?

Mas, dir-me-ão, e o que tem isto a ver com o Porto de Faro?

Eu, pessoalmente, tenho uma ligação, de afeto, estreita com esta estrutura marítima. Foi no Porto de Faro que iniciei a minha carreira de Piloto Marítimo, após vários anos no mar como Oficial da Marinha Mercante. Nesses tempos (meados dos anos 1980) cheguei a ter semanas de 18 navios em porto, entre petroleiros (abastecimento de combustíveis à cidade e de jet ao aeroporto), cargueiros para sal-gema e sal marinho, alfarroba, clinquer e cimento, madeira exótica (para a Carmo & Brás), conservas, peixe e marisco refrigerados e, até, passageiros, através do ferry Lusitânia Expresso.

Pois foi com tremendo desgosto que li, esta semana, que o porto de Faro “está às moscas” e que as autoridades estão de braços em baixo, “sem nada poderem fazer”.

A Srª. Ministra do Mar, que ainda esta semana (no Dia do Mar?) voltou a visitar a Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental (EMEPC), tendo anunciado a renovação da missão da extensão da plataforma continental, não poderá também olhar para a plataforma, mas para a que está, bem mais, "aqui ao pé de nós”?

O projeto de exploração de gás, de que falava atrás, seria uma ótima oportunidade para o Porto de Faro se revitalizar, já que tem todas as condições necessárias e suficientes para poder prestar um ótimo serviço a estas atividades de offshore. Tem espaço de aterro, é abrigado, tem uma ótima centralidade e acessibilidade (aérea, marítima e terrestre), está imediatamente disponível e, digo eu, é barato!

É por isso, que considero que os nossos governantes (mas não só em S. Bento) devem olhar para as oportunidades que vão surgindo, não embarcando em populismos esfarrapados. Esta é uma clara oportunidade de multiplicar as ofertas de trabalho numa região tão vitimada pelo desemprego e pelo emprego sazonal. É uma clara oportunidade do nosso País reduzir de forma radical a dependência de energia externa e poder equilibrar, de vez, a balança de pagamentos.

Deixo-vos com o artigo com o qual iniciei este pobre escrito. Leiam-no e, sem pré-questões e preconceitos, tirem as vossas conclusões.
Artigo na "A Voz do Algarve"