Sobre o Centenário da Criação da Freguesia de Quarteira (1916 – 2016): Parte II

11:15 - 08/01/2017 OPINIÃO
por João Carlos Santos | Licenciado em Património Cultural - Historiador | jcsantos87@gmail.com

No entanto, é importante frisar que desde os estudos e iniciativas levadas a cabo pelo Dr. António de Sousa Pontes, e pela Dr.ª. Isilda Martins, e um projeto de monografia pela mão do Dr. Jacinto Duarte, e outros tantos levantamentos e estudos de carácter arqueológico, pouco se fizera para reunir e organizar a informação sobre as diversas balizas temporais da História de Quarteira.      

Resumindo-se a “História de Quarteira”, a uma mítica (mas já desmistificada) carteia, a alguns foros dedicados ao cultivo da Cana-do-Açúcar e à tradicional Aldeia de pescadores algarvia cuja evolução deu-se pelo Turismo. Dentro deste pensamento, é de mencionar o excelente texto, “Da Mítica Carteia ao Cosmopolitismo dos anos 60”, da autoria do Dr. Joaquim Manuel Vieira Rodrigues, que personifica uma transição, um clarificar de determinados aspetos históricos do local e que a mim reforçou-me a crença que já tinha, de que Quarteira não era simplesmente “moderno”.

Deixar também um justo e meritório voto de louvor aos esforços do Engº. Luís Guerreiro, a nível de outras atividades, mas fundamentalmente pela exposição Comemorativa dos 100 anos do Turismo que incidiu no exemplo da Praia de Quarteira. Um sucesso que veio reforçar ainda mais este despertar por parte dos Quarteirenses.

Paulatinamente, começamos a perceber que existe um fio condutor nesta questão do estudo associado à História de Quarteira, como anteriormente disse, um despertar que veio aprofundar ainda mais o conhecimento que tínhamos sobre a localidade. Todavia, sempre existiram aquilo que podemos chamar de “tempos mortos”, em que durante anos nada se fez em prol do conhecimento histórico e consequente reforço da identidade coletiva de Quarteira.

Pois, pela História reforçamos a nossa ligação à terra, somos herdeiros daqueles que nos precederam e com eles aprendemos e deveremos registar o seu exemplo para futuro. Fazendo uma vez mais uso da máxima, de que o Passado vive no Presente e é vital salvaguardá-lo.

Não procuro com este texto criticar ou elevar-me acima de iniciativas anteriores, procuro sim, e com a maior justiça, criticar a passividade face ao que se entendia como “História de Quarteira”, levando historiadores a dizer que Quarteira era “moderno”, noção que ainda impera, mas que cada vez mais cai por terra.  Voltando ao nosso tema (e o leitor irá por certo perdoar-me o desfasamento anterior), podemos então afirmar que a Freguesia de Quarteira é filha da Primeira República Portuguesa (1910 – 1926) e o seu batismo é feito pela Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918). O contexto histórico Nacional e Internacional, figurava-se nestes moldes e é neste contexto que é levado a cabo o processo de criação da freguesia e o surgimento do homem que seria veículo às pretensões de um conjunto de republicanos de Quarteira, que ambicionavam este estatuto.

Trata-se do Dr. José Maria de Pádua, nasce em Olhão a 8 de Fevereiro de 1873. O seu pai, médico olhanense do mesmo nome, que se notabilizou igualmente como músico, foi uma figura de elevada proeminência no seu tempo e na sua terra natal.   José Maria de Pádua, completa a sua formação em medicina pela Escola Médico-Cirúgica de Lisboa,   vem a estagiar nas principais clínicas de França, Suíça e Alemanha, na especialidade de doenças cardíacas, pulmonares e em eletroterapia e abre o seu consultório em Lisboa. Desde muito novo demonstra ser um fervilhante defensor dos ideais Liberais, levando-o a se filiar no Partido Republicano Português, tornando-se um dos mais dinâmicos propagandistas da República no Algarve.  Continua...