Trump: a vitória do ódio

10:10 - 01/02/2017 OPINIÃO
por Diogo Duarte | Jurista, Licenciado em Direito e Mestrando em Direito Internacional | diogoduarte@campus.ul.pt

Há alguns dias atrás, Daniel Oliveira questionava, retoricamente, se o Daesh já havia reivindicado Donald Trump, sendo este até agora, o seu ataque mais eficaz. O tom irónico não descuida de uma curiosa e inteligente abordagem à eleição de Donald Trump, enquanto Presidente dos Estados Unidos da América.

Com um discurso populista, despromovido de conteúdo e sentido, o empresário norte-americano foi derrotando os seus opositores e conquistando a pari passu o eleitorado. Aquilo que à primeira vista parecia uma piada de mau gosto, rapidamente se tornou numa realidade. Donald Trump tornou-se Presidente dos Estados Unidos da América, e é hoje, a viva voz de toda a ala da direita ultraconservadora e de toda a extrema-direita.  

Durante as suas campanhas eleitorais, Trump apontava responsabilidades em todas as direções: desde os russos aos mexicanos, passando pelos refugiados, e terminando nos muçulmanos, todos foram acusados de prejudicar os interesses dos Estados Unidos.

Este seu discurso de ódio generalizado fez eco no sentimento patriótico de milhares de americanos que continuam a legitimar o pensamento e a ação de Trump. Não surpreende por isso, que as primeiras ordens presidenciais emitidas pelo novo Presidente, fossem por isso altamente repressivas e restritivas, relativamente àquelas que vinham a ser as políticas encetadas por Barack Obama.

Os Estados Unidos passaram assim, da abertura diplomática, para um sistema centralizado e fechado em si mesmo; do diálogo, para um monólogo; da cooperação, para o isolacionismo; e do reforço dos direitos e das liberdades, para um sistema opressivo e restringente. Os sinais de Trump são bem claros quanto à política que pretende implementar no seu país. Defensor da monitorização civil através das escutas telefónicas, Trump é abertamente defensor da violação de direitos humanos, tendo por diversas ocasiões defendido que irá aumentar e reforçar o programa de Guantánamo.

Efetivamente, Daniel Oliveira está certo. Se o objetivo do Daesh passa por reprimir, desrespeitar e subjugar os direitos humanos e as liberdades individuais, então, conseguiu, através de Trump, alcançar sucesso no propósito que prossegue.  É através do próprio ódio ao Daesh, que este consegue alcançar a sua maior vitória.  E Trump, será assim, sob todos estes aspetos um produto do Daesh, que para se manter no poder, necessitará de continuar a incentivar ao ódio generalizado e ao exacerbado patriotismo norte-americano.