Sobre o Centenário da Criação da Freguesia de Quarteira (1916 – 2016): Parte V

15:30 - 18/02/2017 OPINIÃO
por João Carlos Santos | Licenciado em Património Cultural - Historiador | jcsantos87@gmail.com

O Jornal “O Heraldo” de 26 de Março de 1913, fala-nos do efusivo clima festivo que deu a volta às principais ruas da povoação até ao largo municipal onde foram plantadas por crianças desta, “risonha e laboriosa praia”, uma palmeira, uma romãzeira e três acácias. Durante o ato mais alto das festividades - plantação das árvores - as crianças cantaram; “o Hino escolar, a Maria da Fonte, A Minha Terra e a Bandeira, acompanhadas pela tuna do Grémio Recreativo”. Nesta época a dinâmica cultural e recreativa da povoação levanta ainda muitas questões, uma delas, relacionada com o Grémio Recreativo. Não se consegue determinar com exatidão se este seria originário de Quarteira ou de outra localidade vizinha, por sua vez, solicitado a estar presente na festividade, ou mesmo um antecessor da famosa Sociedade Recreativa Quarteirense.

No início do cortejo a notícia revela uma pista, é a seguinte: “os sócios do Grémio Recreativo com uma graciosa bandeira encarnada e verde e acompanhados da sua tuna”. Poderá se colocar à evidência que a bandeira poderia ser um elemento simbólico e diferenciador deste grémio ou até uma simples alusão às cores da revolução republicana, não é fácil determinar.

O ritual da festividade, semelhante a tantos outros pelo país fora, requereria a participação dos homens ilustres da povoação, de facto, é aqui que nos surge uma revelação pertinente acerca daquele que poderemos aclamar de o primeiro grupo de influência quarteirense dos alvores da Primeira República. Patente no Jornal O Heraldo, leia-se: “Em seguida à plantação, usaram da palavra os cidadãos Ernesto Viegas Martins, José Pontes Bita, Hermenegildo da Piedade e Domingos Abraços, todos de Quarteira, que cheios de patriotismo e fé ardente no progresso da sua linda terra, proferiram entusiásticos discursos alusivos ao ato, sendo alvo de grandes e sinceras manifestações.”

Para a História local a sua importância encontra-se reservada, com o seguimento da criação da Freguesia em 1916, pois, todos eles seriam presidentes da Junta de Freguesia de Quarteira. Estes aspetos serão desenvolvimento mais à frente, e com maior pormenor no tópico alusivo à criação da freguesia. Após um caloroso acolhimento por parte dos quarteirenses, o Dr. João Pedro de Sousa proferiu um discurso avaliado como: “substancioso (...) por várias vezes entrecortado de ruidosos aplausos, no qual favoreceu ao povo e especialmente às crianças uma grande lição respeitante ao culto da árvore”.

Em seguida, assiste-se à declamação de poesia por parte das crianças que participaram na festividade. No final bradaram-se “vivas à República, à Pátria, à Festa da Árvore, ao Dr. Afonso Costa e ao Dr. João Pedro de Sousa” seguindo-se de um “lunch” e culminando numa marcha “aux flambeaux”, iluminações e um baile, tendo depois o Dr. João Pedro de Sousa e comitiva retirado para Almancil onde jantou e seguido para a estação de Loulé onde se dirigiu a Faro.