QUEM TEM MEDO DA FEMINISTA*?

17:20 - 03/05/2017 OPINIÃO
por Irina Martins | Deputada da Assembleia Municipal de Loulé eleita pelo PSD

*adjetivo de dois géneros relativo ou pertencente ao feminismo;

Feminismo: doutrina ou movimento que preconiza a igualdade de direitos entre homens e mulheres;

 in Dicionário infopédia da Língua Portuguesa

 

 

            Longe vão os tempos das grandes manifestações feministas onde se queimavam os sutiãs em nome da emancipação feminina, e onde se gritavam palavras de ordem em nome da igualdade de género.

Os anos passaram, os ímpetos de revolta em torno dos direitos das mulheres acalmaram, mas a causa não morreu. Nos anos 60, a época quente dos movimentos feministas, eu ainda não era nascida, mas até à atualidade permaneceu uma crítica quase em surdina a este tipo de movimentos, que passaram a ser equiparados a frustrações femininas.

A estranha equiparação de feminismo a frustrações femininas não podia estar mais distante da verdade. O feminismo faz tanto sentido hoje como fazia há 50 anos, pois as mulheres continuam a não ter atingido a sua plenitude de direitos em comparação com o sexo masculino.

Mas há vários indicadores que dizem que estamos no bom caminho tendo em conta que em Portugal a maioria da população universitária é do sexo feminino. Contudo, continuamos a ter uma representação minoritária no poder político, económico, financeiro e social. Nos centros de decisão, as mulheres continuam a estar sub-representadas ou mesmo ausentes.

Apesar das conquistas atuais e do passado, a igualdade entre homens e mulheres ainda não é uma verdade absoluta. Uma coisa é aquilo que está legislado, e nesse sentido Portugal está no bom caminho para terminar com a discriminação e dá bons sinais ao resto do mundo. Outra questão diferente é a realidade vivida pelas mulheres portuguesas no seu dia a dia. Quantas de nós não foram já preteridas numa função laboral por um homem, quantas de nós não ouviram já um comentário em tom paternalista ou uma piada machista nos “salões” e tiveram de sorrir, baixar os olhos e desconsiderar, para não ter de desrespeitar ninguém? Esta é a realidade diária de muitas mulheres que se movimentam em meios tendencialmente masculinos. Diversas leis foram implementadas para permitir o acesso das mulheres e para punir a discriminação. Mas a “lei” mais difícil de criar prende-se com a necessária mudança geracional de mentalidades. Essa necessita em primeiro lugar, que as próprias mulheres se evidenciem e que não aceitem comportamentos machistas ainda existentes na nossa cultura, e que ao fim do dia as diminuem e desvalorizam no nosso papel de mulher.

Se hoje levanto a minha voz pela igualdade entre homens e mulheres numa perspetiva feminista, é porque já senti a discriminação, sei que ela é uma realidade omnipresente, sei que não é tão dura como a do tempo da minha avó e da minha mãe, mas luto para que ela nem sequer seja um tema relevante quando a minha sobrinha tiver a minha idade.

Nasci mulher e sou claramente feminista e para que fique claro, a única frustração que carrego comigo é saber que existem outras mulheres a quem falta o apoio para realmente conseguirem viver os seus sonhos. A busca da felicidade não tem género.