Tavira, o «25 de Abril» e o Processo Revolucionário – PARTE II

14:06 - 08/05/2017 OPINIÃO
Por: Miguel Peres Santos – Mestre em Gestão Cultural pela Universidade do Algarve – miguelsantostavira@gmail.com

MAIO DE 1974: AS PRIMEIRAS MANIFESTAÇÕES DEMOCRÁTICAS

Como acontecera um pouco por todo o país, a grande maioria dos Tavirenses, demonstrou enorme satisfação e alegria com o golpe militar que havia deposto o “Estado Novo” a 25 de Abril de 1974 e que prometera uma vivência em democracia e a defesa dos direitos e liberdades individuais.

Após o golpe militar de “25 de Abril”, verificou-se uma ponderada reserva nos comportamentos festivos, o mesmo não se pode dizer das movimentações políticas que foram surgindo dentro da sociedade tavirense, sendo o Movimento Democrático Português (MDP) o responsável pela primeira manifestação organizada de apoio ao Movimento das Forças Armadas realizadas em Tavira, como se pode ler na comunicação feita pela Comissão Concelhia Provisória do MDP de Tavira no Jornal “O Tavira”:

“A Comissão Concelhia provisória da C.D.E. comunica e convida a população de todo o concelho a assistir à manifestação pública que se realiza na Praça da República, em Tavira, no dia 5 de Maio, pelas 16 horas, afim de se comemorar a libertação do País, pelas Forças Armadas, na data histórica de 25 de Abril. – A Comissão Concelhia Provisória” (Jornal “O Tavira”, Nº 29, 3/05/1974, ANO II, P. 3)

Apesar desta comunicação, que promovia uma manifestação para o dia 5 de Maio, a população da cidade de Tavira juntou-se para comemorar e manifestar de forma espontânea, o seu apoio ao MFA, no dia 1 de Maio, data comemorativa do Dia do Trabalhador, instituído feriado nacional pela Junta de Salvação Nacional (JSN), e que havia sido proibido de celebrar pelo regime durante mais de 40 anos.

Depois de percorrer as principais ruas da cidade ao som da Banda de Tavira, a enorme multidão que se juntou para saudar as Forças Armadas concentrou-se na Praça da República por volta das 18 horas desse Dia do Trabalhador, para ouvir de uma das janelas do Edifício dos Paços do Concelho a palavra de alguns reconhecidos e assumidos democratas tavirenses. Começou por usar da palavra Joaquim Teixeira, solicitador em Loulé, seguindo-se os cidadãos tavirenses: José Sequeira, Joaquim Valente, Guilherme Camacho, Eduardo Palma, Dr. Eduardo Mansinho, e Rui Figueiredo, que foram unanimes nas ideias e nas palavras, centradas na repressão do anterior regime e nos motivos que levaram o país a uma crise económica e política. Depois de ouvidos os discursos e tocado o Hino Nacional por parte da Banda de Tavira, a multidão dirigiu-se para o Quartel Militar do CISMI, como forma de agradecimento aos militares pelo seu contributo na queda do regime do “Estado Novo”.

No dia 5 de Maio, nova multidão voltou a juntar-se na Praça da Republica, desta vez para a manifestação organizada pelo MDP de Tavira, primeiramente para ouvir o comunicado deste movimento, onde se propunha a demissão de algumas entidades administrativas e escolares e depois para ouvir algumas individualidades ligadas ao MDP. No uso da palavra, falou o Dr. Dias da Costa que se elevara a mentor de todas as movimentações, seguindo-se Manuel Rodrigues Pereira (de Olhão), João Camacho (de Mértola), Manuel Bom (da Fuzeta) e Guilherme Camacho, que seguiram nas suas palavras o que já havia sido dito no comunicado.

Em Santa Catarina da Fonte do Bispo, uma das freguesias mais rurais do concelho de Tavira, fora divulgada no dia 4 de Maio, que haveria uma manifestação no dia seguinte em Tavira, dada a distância entre as duas localidades e o interesse da população em celebrar o “25 de Abril”, mas fazer tanta distância não era viável para maioria das pessoas. É neste contexto que a população que se ia juntado em grupos é surpreendida pela manha do dia 5 de Maio, com a rua principal e o largo da Igreja inundada de panfletos com palavras de ordem relacionadas com o momento politico que atravessava o país.

Seria por volta das 14 horas, que se começariam a concentrar populares no largo da Igreja, para ouvir discursar o reconhecido democrata de Santa Catarina da Fonte do Bispo, Sr. José Gago Sequeira que divulgou a Comissão Executiva do MDP de Santa Catarina da Fonte do Bispo e o Dr. Carrapato, vindo de Faro e que se distinguia por ser um reconhecido advogado da região. Após estes discursos a população saiu ordeiramente em desfile pelas ruas da aldeia, dando cumprimento a uma das reivindicações apresentadas pela Comissão do MDP local: dar à rua principal o nome de Rua 1º de Maio e ao largo da Igreja de Largo 25 de Abril.

Depois de gerados estes movimentos, proclamados democratas por parte dos seus elementos, Tavira aderiu voluntariamente aos mesmos, como se pode verificar na enorme adesão a estas iniciativas, começando assim uma vivência democrática, de liberdade e participação política que iria marcar os meses que se seguiram ao “25 de Abril”.