Do que falamos quando se discute a educação

12:52 - 20/11/2014 OPINIÃO
por Rui Cristina | ruicristina19@gmail.com

No início de um novo ano letivo, que embora não tenha sido isento de alguns percalços, permitiu o cumprimento do calendário escolar para a maioria de milhares de alunos, creio que o debate sobre a educação deveria abordar outro tipo de questões que se prendem com o desenvolvimento do país.

Embora a contratação do corpo docente, o financiamento do ensino superior ou até o fecho de escolas do ensino básico, visando proporcionar aos alunos melhores condições e mais qualidade de ensino sejam matérias relevantes e longe de mim desvalorizá-las, claramente, isto não é discutir a educação e a forma como um país forma os cidadãos do futuro.

Por educação, defendo um sistema de organização do conhecimento, que estimule a capacidade de pensar, a imaginação, qualidades que estão na génese da evolução humana e permitem relações de compreensão intelectual e emotiva, em vez de meras ligações baseadas no utilitarismo.

Os sistemas educativos que não perseguirem estes objetivos e privilegiarem unicamente as competências que se designam como úteis e competitivas, úteis para o benefício imediato e a ele adaptadas, estão a ameaçar, a prazo, a competitividade de uma ou mais gerações. Em suma, estão a comprometer o futuro.

A verdadeira competitividade advém de uma formação de cidadãos capazes de pensar, com capacidade crítica, dispostos a perspetivar sociedades diferentes, cujas competências serão mais qualificadas para os desafios de uma sociedade democrática.

Para se ser um cidadão responsável, será necessário muito mais do que lidar com manuais escolares e a sua memorização. Será necessária capacidade para interpretar os dados, imaginação para fazer uma avaliação crítica, irreverência para questionar injustiças.

Num mundo em que o contacto com outras culturas, diferentes religiões e formas de organização política é à escala planetária, os problemas das sociedades são de dimensão semelhante, sejam eles de âmbito económico, ambiental, político ou social.

Para criar universidades abertas a estes desafios, cultivar nos universitários o sentido de pertença a um mundo diverso importa, logo nos bancos do ensino básico, investir na formação de espíritos e corações comprometidos com os aspetos humanistas das ciências, atentos ao fluir do mundo e disponíveis para aprender sempre, ao longo de toda a vida.

Um sistema de ensino de aprender questionando, de não limitar o conhecimento a áreas consideradas “úteis”, está ao alcance unicamente das sociedades que prezem o sentido de democracia, e queiram que os seus filhos aprendam com o conhecimento humanista que permite desenvolver em pleno as suas capacidades.

A Educação é afinal a arte de compreender os outros, aprender a viver num mundo complexo, junto com os números, as letras e a memorização de saberes; Devemos às gerações futuras o nosso empenhamento em educar cidadãos com as competências indispensáveis à manutenção e aperfeiçoamento das democracias. Para que o seu futuro seja garantido.