Entrevista a Rui Cristina

15:01 - 10/11/2020 ENTREVISTAS
Presidente da Comissão Política Concelhia do Partido Social Democrata de Loulé

Rui Cristina, 41 anos, natural de Loulé, 1 filho, Engenheiro Civil, Deputado do PSD eleito pelo círculo eleitoral de Faro.

Foi Diretor de Manutenção de Infraestruturas na empresa Municipal Infralobo.

Presidente do PSD Loulé de 2014 a janeiro 2020 e desde outubro 2020, Vice-presidente do PSD Algarve desde 2016, Conselheiro Nacional do Partido Social Democrata desde 2016.

Foi Dirigente da JSD Loulé e Algarve, Coordenador da ACRAL Loulé e Candidato a Presidente da Junta de Freguesia de Almancil em 2005 e 2009.

VA - Enquanto Deputado à Assembleia da República a que Comissões Parlamentares pertence. Como tem sido essa experiência parlamentar?

RC - Antes de mais, gostaria de destacar a confiança depositada em mim enquanto militante, pelos órgãos dirigentes do PSD, a nível nacional e regional, no sentido de representar o Algarve. Assumi a eleição para a Assembleia da República com orgulho e o máximo sentido de responsabilidade e tem sido uma experiência muito enriquecedora, que me possibilita a defesa do Algarve e dos Algarvios, quer nos Plenários do Parlamento, quer nas audições aos membros do Governo e ainda nas Comissões de Trabalho que integro. Atualmente fui nomeado pelo Grupo Parlamentar do PSD para vice-coordenador do PSD da Comissão da Saúde e vice-coordenador do PSD da Comissão Eventual para o acompanhamento da aplicação das medidas de resposta à pandemia da doença COVID-19 e do processo de recuperação económica e social. Faço também parte da Comissão de Ambiente, Energia e Ordenamento do Território e da Comissão de Agricultura e Mar.  

VA-Quais têm sido as suas bandeiras em defesa do Algarve?

RC- Como certamente tem conhecimento, pois tenho prestado contas sobre a atividade parlamentar, as questões em defesa do Algarve têm sido um objetivo comum dos deputados eleitos pelo PSD no Algarve.

Um dos aspetos que mais motivou a nossa intervenção na Assembleia da República foi a situação calamitosa da Saúde na nossa região e no nosso concelho. Também a questão da seca endémica que nos aflige, bem como, a questão da segurança, com destaque para a rota de migrantes entre o Algarve e Marrocos, que denunciamos e o Governo negou persistentemente. 

Refira-se ainda a falta de investimento na região, que está plasmada tanto nos Orçamentos do Estado. Aliás, no Plano Nacional de Investimentos, mais conhecido por PNI 2030, o governo PS praticamente elimina o Algarve. Destina à região, uns míseros 0,5% da verba total, insultuosa para os algarvios. Houve muito mais intervenções, relativamente ao mau funcionamento da justiça, a pouca atenção à agricultura e ao desenvolvimento do interior, aos assuntos do cluster do mar.

“Fizemos aprovar na Assembleia da República o Programa de Resposta Económica e Social para o Algarve, para travar a hecatombe na economia da região. É um programa para responder às dificuldades concretas das empresas”

Mais recentemente e no âmbito da pandemia Covid19, fizemos aprovar na Assembleia da República o Programa de Resposta Económica e Social para o Algarve, para travar a hecatombe na economia da região. É um programa para responder às dificuldades concretas das empresas. Até aqui o Governo ignorou olimpicamente as medidas preconizadas e que se baseavam em encontros com associações empresariais, instituições e inúmeros empresários que os deputados do PSD eleitos pelo Algarve realizaram, no sentido de auscultar a economia real da região.

“…a falta de medidas concretas que permitam ao Algarve enfrentar a grave crise económica e social provocada pela pandemia. Também o projeto da construção do Hospital Central do Algarve é uma promessa mais uma vez adiada”

VA-Que balanço faz do governo socialista em relação ao cumprimento de promessas eleitorais para o Algarve?

RC- O balanço é obviamente muito negativo e dou como exemplo a falta de medidas concretas que permitam ao Algarve enfrentar a grave crise económica e social provocada pela pandemia. Também o projeto da construção do Hospital Central do Algarve é uma promessa mais uma vez adiada. Na última semana voltei a questionar a Sra. Ministra da Saúde, que há perto de um ano, aquando da discussão do último Orçamento do Estado afirmou e cito, que “o novo Centro Hospitalar Universitário do Algarve deixe de ser uma miragem em termos de infraestruturas”.

Acontece que na proposta de lei do Orçamento do Estado para 2021 o novo Hospital do Algarve permanece uma miragem. Perguntei à governante se nos podiam dar uma razão - desde que não fosse insultuosa para os algarvios – para não constar do Orçamento para 2021 nada sobre a construção do Novo Hospital Central do Algarve.

Quer dizer, se há 1 ano a construção do hospital aparentemente deixava de ser uma miragem, agora na proposta de Orçamento para 2021, passou a ser uma omissão. E mais, até à concretização do projeto, o SNS do Algarve continuará no limite?

Mas queria ainda acentuar que, o executivo socialista da Câmara de Loulé, não tem tido melhor gestão. No último ano, os grandes investimentos da Câmara Municipal presidida por Vítor Aleixo, têm servido para esconder a falta de investimento público do Estado Central. Quase 1 milhão de euros foi atribuído à Autoridade Marítima reforçar a sua operação no concelho de Loulé, com uma nova Estação Salva Vidas de Quarteira. Este deveria ser um investimento do Estado Central.

Vai ser realizado um investimento de 16 milhões euros em parceria com o Centro Académico de Investigação e Formação Biomédica do Algarve, ABC para criar um polo de desenvolvimento científico na área da saúde, enquanto não tem tido intervenção nas urgentes obras que o Centro de Saúde de Loulé necessita.

Para mim, social-democrata, mas igualmente para qualquer político que encare a política como serviço do seu país, sem melhoria das condições concretas dos portugueses, não há política que valha a pena, não há especulações que justifiquem, não há cenários que motivem ninguém. Um caminho desses acarreta, a prazo, a ruína da democracia.

VA- Após ter sido Presidente do PSD/Loulé entre 2014/19, porque decidiu retomar a Presidência do PSD/Loulé, após esses 6 anos de exercício?

RC - Eu respondo a essa pergunta, com uma citação do Dr. Francisco Sá Carneiro: “Somos efetivamente um partido de massas com a sua organização própria, em que são os militantes quem manda, digamos assim, no partido: não é nenhum grupo de notáveis, não são os deputados”.

Os militantes do PSD votaram numa lista de união e consenso, porque estamos a viver tempos excecionais, que exigem respostas também excecionais e que respondam de forma concreta à grave crise social e económica que se vive no nosso concelho e no Algarve. Queremos fazer parte das soluções que até aqui não foram criadas e porque se trata da vida de milhares de pessoas esta é a altura de estarmos ao nível da confiança que os louletanos depositam no PSD.

Com a consciência de que serão responsabilizados os que ignorarem a situação crítica que se agrava dia a dia, não podia deixar de responder ao desafio que me foi lançado pelos militantes sociais-democratas de Loulé. A capacidade de um partido depende sempre dos seus militantes, e o PSD Loulé valoriza uma frente unida, disposta a combater a má gestão do nosso concelho e resolver problemas que nos afetam a todos.

Não podemos deixar por mãos alheias o futuro do nosso concelho e muitos foram os militantes que me incentivaram, pelo que retomo o projeto de unir cada vez mais o partido, para ganharmos força.

VA- O que espera fazer desta vez que não fez no passado, enquanto Presidente da Concelhia?

RC- Aproveito esta ocasião para renovar a minha total disponibilidade e conto com o empenho dos militantes neste novo ciclo, para que o PSD ganhe um novo folego e se prepare de forma eficaz para responder às exigentes tarefas que nos esperam. Hoje somos oposição, mas um partido só tem força quando os seus militantes se associam em torno de um projeto mobilizador: Só unidos poderemos vencer as próximas autárquicas

A nossa campanha em prol das autárquicas será de esclarecimento, de verdade e serenidade, centrando-se sobretudo nos problemas concretos, mais do que, num discurso teórico. Será uma campanha afastada de qualquer demagogia.

VA -Já anunciou que vai promover sessões de atendimento ao público no sentido de ouvir os cidadãos e estreitar laços de proximidade entre eleitos e eleitores. Como pensa que vai decorrer essa auscultação à população?

RC- A sua pergunta contém a resposta: Ouvir os cidadãos. É uma linha de atuação que sempre defendi ao longo de toda a minha carreira política.

Já citei em anterior pergunta os encontros com associações empresariais, instituições e inúmeros empresários que os deputados do PSD eleitos pelo Algarve realizaram, no sentido de auscultar a economia real da região. Acredito que para o PSD não há urbanos e rurais, não há massas e vanguardas. Há, sim, os cidadãos que todos somos e cujos problemas temos de conhecer para podermos apresentar soluções que tragam mais justiça social, mais igualdade para todos e um futuro menos comprometido e mais risonho.

Aproveito para dizer que a primeira sessão decorre no dia 7 de novembro a partir das 9h45 na sede do PSD em Loulé e em Quarteira, na Rua São Gonçalo de Lagos, nº 36, pelas 11h45. As audições vão decorrer no primeiro sábado de cada mês, nos locais indicados.

VA- Como pretende mobilizar o partido para preparar o projeto político autárquico para 2021?

RC- Acredito que a comissão política do PSD Loulé vai ser capaz de demonstrar que em conjunto, estamos prontos para os desafios que se avizinham. Afinal, é nos períodos difíceis que se revela o dinamismo dos militantes sociais-democratas, os quais jamais desistiram de travar as necessárias batalhas, unindo forças, pois o nosso maior objetivo é que o nosso concelho avance na retoma da economia.

Estamos a atravessar uma das maiores crises sociais e económicas no concelho de Loulé e poucas têm sido as soluções concretas para apoiar as empresas e as famílias, por parte do Governo e do executivo camarário socialista de Loulé, este último enredado em lutas internas. A rapidez com que tem ocupado os lugares de chefia do organigrama da Câmara, conjugado com a facilidade com que tem multiplicado os lugares de coordenador e de chefia nas empresas municipais, é escandalosa.

Gritante e escandaloso é igualmente a forma displicente com que gere os dinheiros públicos, e gere a autarquia. O escândalo assumiu tamanha proporção que desde cedo o executivo do Vítor Aleixo se incompatibilizou com o seu Presidente da Assembleia Municipal. E o desgaste foi tão elevado que levou à sua prematura demissão, em meados do corrente ano. Por outro lado, o número de colaboradores precários que estão ao serviço da Câmara está a aumentar. O executivo socialista sabe que, dando algum, mas dando pouco, mantém a subserviência das pessoas sobre o poder que atualmente exerce.

Há um défice cada vez mais acentuado do espírito democrático. Chegamos ao ponto de os louletanos terem medo de expressar a sua opinião, pois sentem que podem ser perseguidas pelo aparelho montado pelo PS.  Não há dúvida que o executivo socialista, liderado por Vítor Aleixo, tem descurado o concelho. Composto por 7 elementos, todos a tempo inteiro, não tem sabido gerir os destinos daquele que é um dos mais importantes concelhos do país, a todos os níveis.

VA- Prometeu trabalhar com todos e para todos e tudo fazer para agregar militantes e simpatizantes em redor do partido. Qual o caminho a percorrer para alcançar esse objetivo?

RC- Já estão no terreno várias iniciativas, que irei conjugar com as tarefas de deputado, designadamente a audição dos cidadãos e está em curso a calendarização de uma ronda por todas as Freguesias, com destaque para o interior do concelho, com empresários, associações e instituições regionais.

Para defender sempre o interesse das populações, que é o nosso principal objetivo neste tempo excecional e como, no Novo Normal, são exigidas medidas excecionais para a região, que se responsabilizou pela criação de riqueza em cerca de 7% do Produto Interno Bruto nos anos de 2017, 2018 e 2019, creio que o Programa de Resposta Económica e Social para o Algarve, será um objetivo ambicioso e urgente, que irá motivar os nossos militantes.

VA-Que apreciação faz dos dois Mandatos Autárquicos de maioria Socialista na Câmara Municipal de Loulé?

RC- O PSD emitiu ao longo dos anos alertas para a gestão perniciosa que o executivo socialista empreendeu em Loulé. Essa incapacidade de gestão tem sido evidente no acumular de saldos de gerência e na inexistência de investimento estruturante para o concelho, limitando-se a concluir algumas obras encetadas pelo PSD. Manifesta-se igualmente nas próprias lutas internas, com a insatisfação a crescer até nas suas próprias fileiras.

Em Quarteira, descura investimento estruturante no reordenamento do território, na limpeza de ruas e no aumento de estacionamento, para a seguir implementar uma ciclovia que castrou a mobilidade das pessoas, colocando ainda em perigo quem a utiliza, devido ao local e à forma como foi implementada. O mercado do peixe e das hortaliças até agora zero!

Em Boliqueime, ganha as eleições em 2017 com a promessa de finalizar a Zona Industrial (com excelentes acessos e com grandes condições), e dois anos depois, propõe a sua revogação.

Na área da saúde, enquanto foi oposição, Vítor Aleixo chegou a manifestar-se publicamente no Centro de Saúde de Loulé, exigindo melhor condições. No entanto, passados 5 anos, o Centro de Saúde ainda não foi alvo de obras.  O executivo socialista promete e nada cumpre. E quando cumpre, cumpre de forma deficiente, e muitas vezes já tarde.

VA-Agora e para terminar, não posso deixar de lhe fazer a pergunta que muitos querem ver respondida. Vai ser o candidato do PSD à Presidência da Câmara Municipal nas próximas eleições Autárquicas? Como tenciona escolher os Candidatos às Juntas de Freguesia e à Câmara Municipal?

RC- Estão definidas pelos estatutos do PSD as regras no que concerne à definição do perfil dos candidatos a cargos eletivos, à aprovação destes pelos órgãos nacionais e regionais, as quais apontam para que os militantes locais tenham desde o início uma palavra a dizer.

Repare, uma alternativa de poder na Câmara tem de ser clara e credível. Independentemente do candidato que escolhamos, há um trabalho prévio que tem de ser feito.  Estamos a auscultar os militantes e a sociedade civil e em breve, a comissão política de Loulé apresentará aos órgãos regional e nacional as soluções que entendemos mais capazes para voltar a dar uma década de desenvolvimento ao nosso concelho.

 

Nathalie Dias