GENEALOGIA por Manuel da Silva Costa | mscosta2000@hotmail.com

Cadavai (fig.) significa vale encavado. É a ribeira que nasce em várias fontes a norte de Loulé, atravessa a Av. José da Costa Mealha junto ao Coreto, delimita as freguesias de Quarteira e de Almancil e desagua na Almargem do Trafal.

O episódio que segue explicará em parte o desprezo a que as Ribeiras são votadas, nomeadamente a de Cadavai que foi soterrada à passagem por Loulé, onde estacionaram um parque de estacionamento junto à Fonte da Cássima, lhe puseram três bombas de combustível em cima, uma urbanização cavalga as Fontes do Cadoiço e esgotos são vertidos nas margens... daí a confusão do nome em “Cacavai”.

Eis a crónica de Lopo Fernandes da Ponte, Padre de Loulé (1570-90), preso pela Inquisição (1583-85) e falecido em 1595, sobre uma inundação que provocou 36 mortos e danos de cem mil cruzados (Registos paroquiais).

“Aos 24 dias do mês de outubro de 1587, a horas que seria entre duas e três depois do meio dia, choveu tanta água em toda manhã que foi um dilúvio. A ribeira de Cadavai fora do seu curso quebrando abaixo do moinho de Fernando Afonso, tomando o figueiral abaixo de Maria de Andrade, rompendo pela Horta Nova (nascente da av. 25 de Abril), dando nas casas de Francisco Leitão, rompendo pelas ruas abaixo do Arrabalde (poente da av. 25 de Abril), a rua da Laranjeira e as mais ruas camarcãs de Francisco Leitão e travessas e a de direito à de S. Sebastião e a de Manuel Vaz Sallem, com as mais, foi derribando todas as casas que achou adiante que foram sendo derrubadas as quais ficaram todas afora e tanto que alguns seus donos não souberam donde eram levados todo o fato, glomelas, pipas cheias, baldes de leite e carrões de trigo. Mais fato e direito que foram bem de perda, sendo por falta cem mil cruzados e a gente que se achou nas casas levou todas até que as afogou até ao Almargem desta Vila que é légua e meia dela e as pessoas que morreram e se enterraram (36) afora muitas que se salvaram. Digo mais, que o dilúvio deu tão grande abalo a esta Vila e a todo o Reino do Algarve” …