Extinção da Pesca com Arte de Ganchorra Rebocada por Embarcação na Zona Sul

12:16 - 05/01/2015 OLHÃO
O Dirigente da Olhãopesca – Organização de Produtores de Pesca do Algarve, Miguel Cardoso, teme por uma possível extinção da pesca com arte de ganchorra rebocada por embarcação na zona sul.

No sotavento Algarvio, entre Faro e Vila Real de Santo António, operam cinquenta e uma embarcações de pesca local e costeira com licença para arte de ganchorra, todas associadas à Olhãopesca, sendo que esta é uma atividade devidamente regulamentada e organizada, tem horário de trabalho, limites de captura diários por embarcação e um defeso de 45 dias.

Trata-se de uma frota de pesca única no nosso País, existem pequenos núcleos de 10/15 unidades pela costa continental, nomeadamente, Setúbal, Aveiro e Viana do Castelo, no entanto, a frota existente no sotavento Algarvio é singular, sendo que tem evoluído e mantido a atividade há décadas em constante equilíbrio com os recursos naturais disponíveis, é portanto, uma atividade com grande importância e impacto económico para a região, tanto pela empregabilidade direta e indireta, como pelo movimento financeiro que proporciona.

No entanto, nos últimos tempos, principalmente, durante o ano 2014, as anormais, constantes e longas ocorrências de interdições de pesca por presença de biotoxinas marinhas, tem provocado elevados danos aos armadores, empresas e respetivas tripulações. A pesca com ganchorra deixou de ser uma atividade com procura em termos de mão-de-obra, os pescadores, mestres e motoristas optam por outras atividades pesqueiras, mais regulares, que não são afetadas por constantes interdições.

Atualmente, a Olhãopesca é promotora de um projeto no âmbito do programa Promar, cofinanciado pela UE e pelo Estado Português, tratando-se de um investimento de 120.000,00 €, que consiste equipar as cinquenta e uma unidades de pesca da ganchorra do sotavento Algarvio com equipamento de seguimento em tempo real durante 3 anos, cuja informação servirá para fins científicos destinados ao Instituto Português do Mar e da Atmosfera, sendo esta, uma obrigação imposta pelo Estado Português.

Dado ao débil estado da atividade de pesca com ganchorra e à permanente incerteza que a envolve, Miguel Cardoso, questiona se vale a pena tão grande investimento por parte da Organização de Produtores, do Estado Português e da União Europeia.

A continuidade de frequentes interdições por presença de biotoxinas marinhas, da forma como inexplicavelmente tem-se verificado, levará, a médio prazo, ao colapso da atividade provocando a sua inevitável extinção, e mais uma vez, perderemos uma atividade económica, uma arte, um saber de gerações, com consequências graves para a região algarvia.

Miguel Cardoso, Presidente da Direção da Olhãopesca, não compreende como é que de um ano para o outro, 2013/2014, ocorreram tantos e tão longos períodos de interdições por presença biotoxinas marinhas, com mais incidência na conquilha (principal espécie alvo de captura), foi um ano atípico, sendo que tais ocorrências estão a ser cada vez mais frequentes e mais longas. Considera que, chegou o momento da administração, Secretário de Estado do Mar, bem como, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, virem junto dos profissionais e das empresas do sector, explicar as razões destas alterações, se são ambientais ou não e quais as perspetivas de futuro, bem como, de repensar, analisar a viabilidade da continuidade desta atividade pesqueira.

Por: Olhãopesca