E o que poderá estar por detrás desta escolha? As condições foram reunidas para que comprar casa se tornasse uma opção real para muitas famílias durante a pandemia. Desde logo, as medidas de combate ao desemprego desenhadas pelo Governo ajudaram a minimizar os efeitos da crise nos orçamentos familiares. As restrições impostas à circulação fizeram o consumo diminuir e as poupanças das famílias engordar, de tal forma que atingiram níveis históricos em julho de 2021, mês em que os depósitos dos particulares somaram 169.910 milhões de euros, segundo os dados do Banco de Portugal.
O tempo passado em casa levou as famílias a valorizar os espaços onde vivem, sobretudo os jardins e varandas, o que levou ao aumento da procura por casas mais espaçosas e com espaços exteriores, apontou o Fundo Monetário Internacional recentemente. E comprar casa recorrendo ao crédito habitação tornou-se também mais apetecível. Isto porque as taxas de juros implícitas nos contratos de crédito habitação desceram na segunda metade de 2020 e assim continuaram até setembro de 2021, altura em que atingiram o mínimo histórico de 0,785%, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).
Quanto custa comprar ou arrendar casa em Portugal?
Este cenário convidou muitas famílias a comprar casa na pandemia. Mas todas depararam-se com uma realidade: há falta de casas em Portugal para tamanha procura. E é este desequilíbrio um dos principais responsáveis pelo aumento dos preços das casas, que estão mesmo em alta e em risco de bolha de preços, segundo apontou o Eurostat.
Os números do INE mostram esta realidade. A chegada da pandemia fez a evolução da subida dos preços das casas abrandar – caiu de 10,3% no primeiro trimestre de 2020 para 7,8% no segundo trimestre. E chegou a cair ainda mais nos primeiros seis meses de 2021. A verdade é que os dados mais recentes mostram uma aceleração do crescimento entre julho e setembro.
Embora não seja a opção preferida dos portugueses, arrendar casa também ficou mais caro durante a pandemia. Nos primeiros três meses de 2020, a renda mediana a nível nacional estava nos 5,5 euros por metro quadrado (euros/m2). E no final do ano estava 0,27 euros/m2 mais cara. A tendência manteve-se em 2021, tendo atingido os 6,08 euros/m2 no terceiro trimestre, segundo os dados provisórios do INE.
Comprar ou arrendar casa nos países da UE
O mapa da europa mostra-nos que comprar casa é mesmo a opção de sete em cada 10 europeus. E analisando os dados nos 27 países da UE salta à vista que, pelo menos, 50% da população é proprietária em todos os países – à exceção da Itália que não tem dados disponíveis.
Mesmo assim, há variações significativas. Na Roménia, viver numa casa própria é a escolha de 96,1% da população. Já arrendar uma casa é opção só para 3,9% das famílias. Este é mesmo o país onde há mais proprietários de toda a UE. Além da Roménia, só há mais três países do espaço europeu onde os proprietários de habitação representam mais de 90%: Eslováquia, Croácia e Hungria.
No fundo da tabela está a Alemanha, onde cerca de 50,4% das pessoas são proprietárias de casas. Os outros 49,6% escolheram viver numa casa arrendada. E a verdade é que há cada vez menos famílias a quererem comprar casa no país. Entre 2019 e 2020, a percentagem de proprietários desceu 0,7 pontos percentuais (p.p). E desde 2010 caiu 2,8 p.p.
Esta é mesmo uma tendência verificada em vários países da Europa na última década. Face a 2010, a percentagem de proprietários de casas desceu em 17 dos 27 Estados-membros. A descida mais acentuada foi mesmo registada na Dinamarca, que passou de 66,6% em 2010 para 59,3% em 2020 – isto é, -7,3 p.p. Esta tendência foi verificada também na Lituânia (- 5 p.p.), Espanha (-4,7 p.p) e Chipre (-4,5 p.p.).
O que também é visível é que entre 2019 e 2020 – antes e depois da pandemia – há menos países onde se registou uma diminuição dos proprietários de casas: são apenas 13 dos 27.
Por: Idealista