Riscos geopolíticos máximos na fronteira leste da União Europeia obrigam a repensar a segurança e defesa

13:44 - 20/02/2022 OPINIÃO
André Magrinho, Professor universitário, doutorado em gestão | andre.magrinho54@gmail.com

No plano geopolítico, 2022 é presumivelmente um ano turbulento e desafiante para a União Europeia. Riscos geopolíticos máximos na fronteira leste da UE, polarizados na alta tensão entre a Ucrânia e a Rússia, obrigam a UE a repensar a sua segurança e defesa.

Apesar do campo de batalha potencial se situar em terreno europeu, não é menos verdade que a União Europeia tem tido dificuldade em afirmar-se como um ator central e credível, dadas as suas fragilidades no campo da segurança e defesa. Tem sido os EUA, desde a 2ª Guerra Mundial, o garante da segurança e defesa europeia, no quadro da solidariedade transatlântica subjacente à guerra fria, em que a NATO vem desempenhando um importante papel instrumental ao abrigo do seu artigo quinto, em que um ataque a um estado-membro é considerado como se o fosse a todos.

Com a quebra do mundo bipolar a partir de 1989 e a construção progressiva de um mundo multipolar, a Europa sente a necessidade de se adaptar às profundas mudanças estruturais na geopolítica global.

Para além dos EUA da América, emerge na cena mundial uma potência desafiante da sua hegemonia – a China; a Rússia não só continua a ser um ator global da maior importância, como protagoniza o principal foco de tensões na fronteira leste da Europa; por sua vez, a índia emerge como um dos grandes atores no Indo-Pacifico para onde se está a deslocar o e epicentro da economia mundial.

Neste contexto, a UE que é uma das economias mais viradas para o exterior no mundo e, também, o maior mercado único do mundo, é, no entanto, considerada um “anão” na geopolítica mundial, sobretudo em matéria de defesa, São notórias as suas fragilidades relativas quanto à capacidade de projeção de poder e em relação à diplomacia coerciva.

É neste contexto que se assiste a uma perceção generalizada que a segurança na Europa está em risco. O sonho de uma Europa unida e livre foi substituído pela realidade de novas linhas divisórias, até mesmo cercas e muros de arame farpado. As relações são marcadas pela desconfiança em vez de serem alicerçadas no respeito e na cooperação.

Num ambiente geopolítico em rápida mudança, a UE enfrenta novas ameaças e desafios de segurança, face à “guerra híbrida”, aos ciberataques, ao terrorismo, ao crime organizado, o que exige uma abordagem unificada, robusta e de longo alcance por parte do bloco e dos seus Estados-Membros. A “Bússola Estratégica” que tem vindo a ser trabalhada, é provável que venha a ser adotada em março de 2022, com um horizonte temporal 2025-2030. Estão em causa medidas reforçadas de segurança e defesa nas áreas de gestão de crises, resiliência, desenvolvimento de capacidades e parcerias, configurando assim o dispositivo de orientação política mais importante nos próximos anos para a Política Comum de Segurança e Defesa da União Europeia.