Mais de 10% das crianças com paralisia cerebral residentes na Grande Lisboa e no Algarve são oriundas dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), revela hoje o quinto relatório do programa de vigilância nacional.
O relatório do Programa de Vigilância Nacional da Paralisia Cerebral (PVNPC) vai ser apresentado na segunda-feira, em Lisboa, continuando a acompanhar a “evolução dos fatores associados ao risco de paralisia cerebral nas crianças nascidas em Portugal entre 2001 e 2012”, refere o documento
Segundo o coordenador do estudo, Daniel Virella, este projeto “é muito diferente de outros programas de vigilância europeus que se dedicam a estudar os nascidos no país, descrevendo também a peculiaridade e o peso que têm em cuidados e assistências que precisam as crianças com paralisia cerebral que não nasceram em Portugal, mas que vieram para cá, acompanhando os pais ou à procura de apoio clínico e social”.
Realizado a cada triénio sem “apoios institucionais”, mas “estruturado em parcerias importantes”, o projeto destaca sobre as conclusões apuradas em 2021, que nas “regiões como a Grande Lisboa e o Algarve são mais de 10% as crianças com paralisia cerebral” oriundas dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, situação que coloca “um peso muito grande nas instituições de apoio”, acrescentou o especialista.
“Este relatório descreve os principais fatores associados ao aparecimento da paralisia cerebral, chamando muito a atenção para a importância da gravidez de risco, e da sua prevenção e controlo”, relatou Daniel Virella que apontou também outras mais-valias do estudo realizado entre 2019 e 2021.
Assim, continuou, “descreve também crianças com paralisia cerebral, aos 5 anos, na segunda década deste século, e dá uma primeira informação acerca de como é que estão os nascidos entre 2001 e 2003, quando chegaram à adolescência”.
As conclusões do estudo referem ainda que o “risco de ter paralisia cerebral (PC) aos 5 anos de idade em crianças nascidas em Portugal, dado pela taxa de incidência por ano de nascimento (coorte), manteve-se estável ao longo dos primeiros 12 anos deste século”, sendo o “fator de risco mais intenso de PC aos 5 anos, a prematuridade, especialmente a grande (28 a 31 semanas de gravidez) e a extrema prematuridade (menos de 28 semanas de gravidez) que, comparando com as crianças nascidas a termo (37 ou mais semanas de gravidez), aumentam o risco de PC respetivamente 50 vezes e 85 vezes”.
Outros fatores de risco apontados são a “gemelaridade, a idade materna superior a 39 anos à data de nascimento, a presença de malformação congénita e o nascer leve para o tempo de gravidez”, lê-se ainda.
Desde o início de atividade, em 2006, o PVNPC conta com uma rede de notificadores voluntários (médicos, terapeutas, enfermeiros, psicólogos e outros profissionais que trabalham com estas crianças) e a colaboração de várias instituições do Ministério da Educação, refere o documento.
O presente relatório contou com a notificação de 2.216 crianças com PC, nascidas entre 2001 e 2012. Os casos foram validados individualmente, recorrendo-se a peritos e à consultora de Neuroimagiologia, se necessário, podendo ser pedidas informações adicionais aos notificadores, lê-se ainda.
A nível regional, verificou-se uma taxa de cobertura de cerca de 80% em 10 das 23 NUT de Portugal continental e nas duas Regiões Autónomas (Açores e Madeira).
Registou-se taxa de cobertura inferior a 60% em quatro regiões (Cávado, Viseu Dão-Lafões, Médio Tejo e Alto Alentejo), identifica o documento.
Por: Lusa