PALAVRAS DE FOGO: DESAFIO PARA UM RENASCER | ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU

09:05 - 15/04/2022 OPINIÃO
Por: Padre Carlos Aquino | effata_37@hotmail.com

“O filho disse-lhe: Pai, pequei contra o Céu e contra ti; já não mereço ser chamado teu filho” (Lc 15, 21). Depois de longa travessia pelo deserto de uma Pandemia ainda não vencida, a que brusca e inesperadamente fomos lançados, que avivou a nossa fragilidade e caducidade; imersos ainda em tantos espaços distópicos que adiam a utopia e a esperança; nesta profunda mudança epocal de grandes e decisivas transformações onde buscamos para além do caos um futuro e um sentido; perante a crise que se acentua da grande fragilidade dos sistemas económicos, onde campeia tanta corrupção e que parece expropriar muitos da justiça e da dignidade; agora, diante duma injusta guerra na Europa, que a todos envergonha e faz ver que não saímos destas crises melhores e mais humanos, quando somos despojados da nossa inteireza e dignidade, ganha todo o sentido e torna-se urgente rezar com e como os cristãos: assim na terra como no Céu! Porque a nossa terra está ferida, as nossas vidas e a nossa fraternidade. Este mundo deixou de ser a grande catedral de Deus.

Como seria tão diferente as nossas vidas e mais belo este mundo se tocássemos aqui a verdade do Céu. Quando Jesus nos ensinou a rezar para que se faça aqui na terra a vontade do Pai, como ela é feita no Céu, quis fornecer-nos um padrão de referência para o nosso aperfeiçoamento.

O que nos é pedido é que, vivendo ainda na terra, lutemos por viver como Deus e os nossos irmãos vivem já na eternidade. Viver com a dignidade dos filhos. Se a vontade de Deus for feita na terra como no céu, dá-se verdadeiramente uma transformação cósmica, tudo é alcançado e revivificado pela beleza eterna de Deus.

A terra transforma-se em Paraíso. Se a vontade de Deus for feita na terra como é no céu, dá-se uma mudança radical na sociedade humana, pois deixará de haver pecado, violência e injustiças, que originam tantas guerras e divisões. Se a vontade de Deus for feita na terra como no céu, passa a existir neste mundo uma nova maneira de viver, ou seja, à vida própria dos mortais e pecadores opõe-se a vida divina, a vida dos verdadeiros filhos de Deus.

Se erguerá um mundo edificado pela verdade, mais justo, mais humano e com mais paz. Porque somos da terra e do céu, faz-nos bem aprender a dizer, neste momento da História: “Pai nosso que nos céus estais, / não circunscrito, mas por amor maior/ e lá do alto tudo nos dás/ que todas as criaturas em digno louvor/ louvam teu nome e teu valor./ Venha a nós a Paz do teu Reino-/ a paz, que sem ti não alcançamos./ E como os anjos que da vontade própria abdicam/ ao cantar-te hossanas/ assim sejamos nós./ Dai-nos hoje o maná quotidiano/ sem o qual, neste áspero deserto,/ retrocede o que julga andar avante./ E como perdoamos o mal que sofremos/ perdoa teu benigno, sem olhar o nosso merecimento./ A nossa virtude que tão facilmente se esboroa/ não a sujeites à prova,/ mas livra-nos daquilo que nos tenta dominar”. (Dante, Canto XI do Purgatório – Adaptação). Assim seja na terra como no Céu. Assim seja a vontade de todos os pródigos que regressam. Assim seja a sua prece feita com humildade, alegria, confiança e abandono nas mãos de um Pai que continua a amar o mundo e os seus filhos. Porque o Céu vencerá!