Por F. Inez

Longe vão os tempos em que Quarteira foi a velha e pitoresca aldeia de pescadores, para encanto de privilegiados louletanos e de meia-dúzia de famílias dos concelhos vizinhos e alentejanos endinheirados. No final do séc. XIX Quarteira era ainda quase só habitada por pescadores, que construíam as suas cabanas de junco, mais tarde substituídas por casas de adobo. Entretanto, desde há 50 ou 60 anos atrás, como que por encanto, o pitoresco casario da velha aldeia de pescadores foi desaparecendo e dando lugar a uma cidade, hoje com mais de 20 mil habitantes, e estância balnear de primeira linha, paredes meias com os complexos de Vilamoura, de Vale do Lobo e da Quinta do Lago, nascidos no último quartel do século passado e que hoje estão entre os melhores destinos turísticos da Europa.

Por total ausência de planeamento adequado e pelo valor especulativo dos terrenos frente ao mar e um desenvolvimento acelerado, ainda todos nos lembramos de Quarteira, nas décadas de 70 e 80 do século passado, figurar nos Compêndios de Arquitetura como exemplo negativo de uma muralha contínua de cimento, construída à beira-mar, e pela ausência de novas vias de circulação, fenómenos que se multiplicaram um pouco por toda a província e que juntamente com uma desordenada urbanização dispersa, acabaram por desfigurar toda a frente marítima algarvia, cuja paisagem natural não foi suficientemente valorizada. Mais tarde, o posterior e inteligente traçado das Avenidas Sá Carneiro e Mota Pinto, paralelas à Avenida Marginal, com vias laterais e centrais de circulação, o acesso à praia pela então chamada Avenida da “Boa Vontade” e a que algum tempo depois se juntou o Calçadão, acabaram por transformar Quarteira numa das mais aprazíveis praias do Algarve. Por absurdo e incompreensível decisão, as vias centrais daquelas amplas avenidas foram ultimamente afuniladas por ciclovias e faixas de estacionamento que deveriam ter sido localizados nas vias laterais, situação que se espera que o bom senso um dia venha a corrigir. Também já não era sem tempo que o novo Mercado, agora prometido e projetado, venha finalmente a ver a luz do dia, já que, pouco mais que rudimentares, os mercados de frutas e hortaliças e do peixe, há décadas que permanecem inalterados e em chocante contradição com a enorme evolução da cidade e do turismo.

Corria o ano de 1955 quando o entendimento entre dois visionários e prestigiados empresários, permitiu que o grupo financeiro de Cupertino de Miranda tivesse adquirido por 150 mil contos … outras fontes referem 300 mil … o Morgado ou Quinta de Quarteira … a propriedade mais extensa do Algarve, com 1600 hectares, desde 1929 propriedade de Júdice Fialho, provavelmente o maior empresário que o País já conheceu. Daqui iria nascer Vilamoura, que hoje se estende pelas freguesias de Quarteira e Boliqueime e que aos poucos se foi transformando num enorme e ajardinado complexo turístico, hoje considerado o maior e mais completo empreendimento turístico da Europa, que cresceu preservando a sua herança ambiental e desenvolvimento harmonioso. É hoje, pelas suas características, localização e clima, seguramente um destino singular no panorama turístico nacional e internacional. Duas praias … Vilamoura e Falésia … 950 hectares de espaços verdes, uma das maiores Marinas da Europa, 5 Campos de Golf, um Casino, mais de uma dezena de Hotéis de 4 e 5 estrelas, um Museu e Estação Arqueológica de Ruínas Romanas, Clubes de Ténis e de Mergulho, Centro Hípico, ciclovias e passeios pedonais … são, de entre muitas outras, infra-estruturas de que se pode orgulhar. Mas como em tudo na vida não há bela sem senão … É difícil de perceber e aceitar que se tenham criado ciclovias e passeios pedonais mistos, não obstante todo espaço disponível para os separar, e que estão na origem de desconforto, frequentes conflitos e mesmo alguns acidentes …. Também é difícil de entender que uma urbanização de luxo mantenha há mais de 40 anos, na via pública … Rua Melvin Jones … arame farpado a delimitar a área anexa a um campo de golfe … já reclamado, mas continuamente ignorado. A Quinta do Lago e Vale do Lobo ficam para uma próxima oportunidade.