PALAVRAS DE FOGO: DESAFIO PARA UM RENASCER | COMO UMA CRIANÇA

12:34 - 13/06/2022 OPINIÃO
Por: Padre Carlos Aquino | effata_37@hotmail.com

“Deixai as crianças e não as impeçais de vir a mim; pois dos que são como elas é o Reino dos Céus” (Mt 19, 14). A proposta de Jesus aos discípulos de todos os tempos, com sabor a profecia e como condição para participarem no Reino dos Céus é um imperativo e um desafio. Constitui uma profunda revolução: serem como crianças! Um programa de vida. Uma missão. Como refere a sagrada Escritura para Jesus as crianças são e simbolizam os últimos, os pequeninos, os desconsiderados e rejeitados.

Como a dizer que o lugar mais importante no seu coração pertence aos últimos, aos simples e humildes, aos descartados, aos socialmente desconsiderados e ignorados, aos puros e inocentes habitados pela verdade. Fazer o caminho de Jesus, ser seu discípulo, ser cristão, implica, pois, uma profunda conversão no que respeita aos critérios de vida. Um novo e luminoso agir.

Temos tanto a acolher e a aprender do olhar e do coração de uma criança. Também isso já foi particularmente dito e valorizado pela Declaração dos Direitos da Criança desde 20 de novembro de 1959 porque a Humanidade deve à criança o melhor que tem para dar. Deve-se, de novo, lembrar que a vida é dom e ideal a explorar e que uma criança tem direito a pintar na terra novo sol e novas flores, pois o seu ser é feito de infinito e de luz. E todo o coração é feito para arder e sonhar.

Independentemente de qualquer consideração de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou outra da criança, ou da sua família, da sua origem nacional ou social, fortuna, nascimento ou de qualquer outra situação. Deve-se, de novo, lembrar que o olhar da criança fala como o interior dos búzios, a sua voz dá-nos o canto do mar e dos anjos.

Que importa que ela suba às alturas do seu sonho como um balão a subir os degraus do céu. Permita-se que se desenvolva física, intelectual, moral, espiritual e socialmente de forma saudável e normal, assim como em condições de liberdade e de dignidade. A condição fundamental a que se atenderá será sempre o interesse superior da criança. Deve-se, de novo, lembrar que uma criança é um pássaro livre que entende a voz do vento e carrega em si as águas da Esperança e do futuro na pequenez de um corpo a crescer. Uma criança lavra o milagre da vida procurando o sol.

É um fruto, um nome a amadurecer, uma candeia acesa em cada amanhecer. Deixe-se viver e brincar feliz uma criança, que lança as mãos e não divide a terra, porque nunca as mãos de uma criança dividem a luz. Uma criança precisa de amor e de compreensão. Seja-lhe ministrada uma educação que promova a sua cultura e desenvolva as suas aptidões mentais, o seu sentido de responsabilidade moral e social.

Seja educada num espírito de compreensão, tolerância, amizade entre os povos, paz e fraternidade universal. Hoje, para seres como uma criança, herdeiro do Céu, “Recomeça / Se puderes/ Sem angústia/ E sem pressa./ E os passos que deres,/ Nesse caminho duro/ Do futuro/ Dá-os em liberdade./ Enquanto não alcances/ Não descanses./ De nenhum fruto queiras só metade./ E, nunca saciado,/ Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar./ Sempre a sonhar e vendo/ O logro da aventura./ És homem, não te esqueças!/ Só é tua a loucura/ Onde, com lucidez, te reconheças…” (Miguel Torga).