O «escudo de silício» que protege TAIWAN

08:53 - 27/08/2022 OPINIÃO
André Magrinho, Professor universitário, doutorado em gestão | andre.magrinho54@gmail.com

No início do mês de agosto, após a presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, ter visitado TAIWAN, Pequim abriu as hostilidades diplomáticas em várias frentes, assim como a uma mediática demonstração de força através de exercícios militares, por terra, ar e mar, e ainda uma retaliação em matéria de coerção comercial, através do bloqueio às importações de alguns produtos alimentares de Taiwan. Muitos viram nestes exercícios, o prenúncio, num prazo relativamente curto, da ocupação desta ilha-nação, pela China, que o pretende fazer preferencialmente de forma pacífica, mas que admite explicitamente o uso da força. Por estranho que pareça, se é verdade que existe uma forte dependência comercial de Taiwan em relação à China, não é menos verdade que é enorme a dependência desta em relação aos chips mais avançados que hoje se fabricam no mundo, em que Taiwan é o maior produtor mundial. É uma espécie de “escudo de silício” que protege Taiwan de uma invasão por parte da China, nos próximos anos, porque uma tal ocupação provocaria uma catástrofe económica para a China e para uma boa parte do mundo economicamente mais avançado, cuja dependência em matéria de chips avançados é uma realidade inelutável ainda num prazo relativamente longo.

No ano passado, 42% das exportações de Taiwan destinaram-se à China e Hong Kong. Uma situação que, à medida que a tensão aumenta na região, as autoridades taiwanesas procuram alterar, diversificando essas relações, nomeadamente por via do acordo com os EUA (destino de 14% das suas exportações em 2021) para dar início no outono a novas negociações comerciais.

Na verdade, depois de anos de hostilidades e tensões com a China, Taiwan encontrou uma estratégia que ajuda a sua sobrevivência nacional neste conflito assimétrico e com a qual conseguiu afastar o espetro de uma invasão chinesa: o denominado "escudo de silício". Uma “arma” que ninguém consegue replicar a médio ou longo prazo, dado o seu nível de complexidade tecnológica. Trata-se de uma indústria estratégica da qual depende, desde a fabricação de aviões de combate a painéis solares, passando por videogames ou instrumentos médicos. Pequim nas medidas de coerção comercial não mexeu nos chips de alta complexidade - a ilha é responsável por 90% da produção mundial - que estão hoje em todos os produtos eletrónicos, muitos deles fabricados na China. A empresa “Taiwan Semiconductor Manufacturing, Co”, é, sem dúvida, a empresa mais importante do mundo nesta indústria, ao fornecer cerca de um quarto dos chips no mundo.

Em síntese, o “escudo de silício” assemelha-se ao conceito dissuasor da Guerra Fria de MAD - Mutual Assured Destruction (destruição mutuamente assegurada), porque qualquer ação militar no Estreito de Taiwan seria tão prejudicial para a China quanto para Taiwan e os Estados Unidos. Assim, evita o desencadear de um conflito e protege o pequeno território de um ataque militar ordenado por Pequim. O custo de tal ação seria tão elevado, não só para o mundo, mas também para a própria China, que o governo de Xi Jinping teria que pensar duas vezes antes de ordenar uma tal intervenção.