PELA CRIAÇÃO DO MUSEU DO CARNAVAL DE LOULÉ (PARTE 1)

15:50 - 28/08/2022 OPINIÃO
Por Mendes Bota, antigo Presidente da Câmara Municipal de Loulé

O Carnaval de Loulé é, de longe, o evento que se tem realizado anualmente neste Município com maior notoriedade e impacto nacional, sendo uma marca consolidada historicamente (iniciada em 1906), com um potencial de atracão turística ainda por desenvolver, e que ocorre num período sazonal em que interessa fortalecer a animação disponível.

A sua dimensão nunca será comparável a outros eventos carnavalescos de reputação internacional como o Rio de Janeiro, Colónia, Viareggio, Nova Orleães, Veneza, Tenerife, Quebec, Nice, Barranquilla, Mazatlán, Berlim, ou Sydnei, entre muitos outros. Porém, assume posição de relevo e diferenciação no cotejo com Ovar, Alcobaça, Torres Vedras, Sesimbra, Sines, Loures, Estarreja, Elvas ou Funchal entre outras eventos similares no âmbito nacional.

De resto, existem pelo mundo milhares de celebrações do Carnaval de pequena, média e grande dimensão, e em muitas dessas localidades foram criados Museus do Carnaval que, não só são repositórios históricos, culturais, educativos, antropológicos, artísticos, investigativos do impacto social do evento e das tradições a ele associadas, como estendem o interesse pelo tema a todos os dias do ano, constituindo uma base logística firme de promoção turística, de produção de merchandising e mais-valia comercial.

As novas tecnologias da informação permitem um grau de interatividade nunca visto, conectando instantaneamente a um público mundividente de muitos milhões de pessoas ávidas de conhecer novas realidades, iniciativas e locais.

Vastas camadas da população de todas as gerações e condições sociais gostam de celebrar o Carnaval tendo apetência por conhecer as razões e as características universais, mas também locais, de tal celebração. As exposições (permanentes e temporárias) sobre o tema contam cada qual a sua história, e os instrumentos multimédia fornecem um manancial de informação de base para os entusiastas do Carnaval.

O espaço de exposições deveria ser concebido de forma atrativa, sensorial, confortável e lúdica, com equipamentos flexíveis para acolher uma diversidade de coleções e conteúdos, documentários e recursos multimédia e multilinguísticos.

Os visitantes do Museu repartem-se pela admissão geral e pelas visitas guiadas escolares e não-escolares, com opção disponível por um sistema de auto-guia acessível por telemóvel.

Um Museu do Carnaval constitui um verdadeiro Centro de Documentação sobre a história desta manifestação, podendo relatar para quem o visita, presencialmente ou na web, a origem e a evolução do evento, a crónica da última edição, as manifestações relacionadas ao longo de todo o ano, construindo um Centro de Interpretação e uma Memória do Carnaval que, no caso de Loulé, não se ficaria pelas famosas Batalhas de Flores e Bailes na sede do Município, mas cobriria também os tradicionais festejos em Quarteira, Alte, outras freguesias e iniciativas populares.

Ali ficariam imortalizadas as coroações dos Reis e das Rainhas do Carnaval de Loulé ao longo dos tempos, bem como a arte inerente à confeção dos carros alegóricos, das máscaras, dos cabeçudos, dos trajes, mostrando a realidade por detrás da cena dos materiais utilizados e dos artistas, criadores e operários que anualmente “constroem” a festa desde o design ao produto final.

O conceito desta estrutura museográfica poderia não ficar confinado a um pensamento meramente bairrístico e fechado sobre Loulé, mas assumir uma verdadeira liderança destas celebrações ao nível regional do Algarve e, quiçá, a nível nacional, abrindo a sua prospeção e coleções em exposição a outros carnavais da Região e do resto do País, o que alargaria ainda mais o espectro de um público interessado em algo que também lhe toca de perto.

 

Leia aqui a SEGUNDA PARTE