A Europa vive uma crise energética que se prevê prologada

09:02 - 16/10/2022 OPINIÃO
André Magrinho, Professor universitário, doutorado em gestão | andre.magrinho54@gmail.com

A atual crise energética prevê-se que seja prolongada e, qualquer que seja o desfecho e o tempo da guerra na Ucrânia, os efeitos nocivos das emissões de gás com efeitos de estufa resultantes da exploração do gás natural (e muito mais graves os que resultam da exploração de petróleo), não só continuará a colocar na ordem do dia o imperativo da transição energética, como a tornam ainda mais pertinente. A emergência climática impõe a procura de um novo mix energético, baseado em energias menos poluentes, onde as renováveis têm uma participação cada vez maior, ainda que só recentemente tenham atingido a fasquia de 10% na matriz energética global.

É verdade que a atual geração de energias renováveis mais maduras, a solar e as eólicas, pela sua intermitência associada às características do sol e do vento, ainda estão longe de suprir as necessidades energéticas das sociedades e das economias, o que aconselha algum equilíbrio, planeamento e sentido estratégico na mudança para o novo mix energético. Outros vetores energéticos como o hidrogénio e novos sistemas de baterias de estado sólido, menos dependentes do lítio, começam a fazer o seu caminho.  

É igualmente verdade que esta transição energética em curso tem ritmos diferenciados a nível dos vários países europeus e naturalmente à escala global. A guerra na Europa é apenas um forte acelerador que nos obriga, dada a forte dependência energética, a encontrar soluções equilibradas num tempo bastante mais curto do que se previa. É este tempo que nos pode faltar, e é com a possível escassez de gás que possa vir a existir, a que acresce a enorme subida dos preços, e com os descontentamentos e agitação social que possam vir a existir neste Inverno, que Putin pensa capitalizar possíveis descontentamentos, colocando assim as opiniões públicas e as populações contra as sanções económicas que a Federação Russa tem sido alvo devido à invasão da Ucrânia. 

É improvável que o consiga, mas para isso a Europa tem que saber encontrar soluções inteligentes e manter a necessária solidariedade com os países que pelas suas geografias não dispõem de mar para receber o Gás Natural Liquefeito (GNL) através de navios metaneiros e tampouco têm acesso ao gás de outras proveniências através de gasodutos. Nem tudo são más notícias, pois recentemente têm sido encontradas soluções bastante importantes e num tempo curto, e outras se perspetivam. 

Assim, há dois novos gasodutos para reforçar essa independência em relação à Federação Russa. No primeiro, que liga a Noruega à Dinamarca no Mar Báltico, já circula gás, a atentar nas declarações do operador Gaz-System, o que vai permitir à Polónia distanciar-se da dependência energética que ainda possuía da Rússia. O segundo gasoduto permite a circulação de gás natural entre a Grécia e a Bulgária, tendo-se já iniciado as operações comerciais. 

Com uma conduta de 185 quilómetros desde a cidade grega de Komotini, no nordeste, liga-se ao gasoduto Trans-Adriático [que liga Itália a países produtores da Ásia Central], até Stara Zagora, no centro da Bulgária. Tem uma capacidade inicial prevista de três mil milhões de metros cúbicos por ano, com a possibilidade de cinco mil milhões de metros cúbicos no futuro. São notícias muito positivas, porque a inauguração destas duas novas vias de circulação de gás tem lugar após a fuga de gás dos gasodutos Nord Stream 1 e 2 detetada no Mar Báltico, porventura devido a sabotagem, o que a confirmar-se é um sinal político, da parte de quem a protagonizou, e que nos diz que o mesmo pode acontecer em relação a outras infraestruturas críticas para a Europa.  Garantir a segurança das infraestruturas críticas é crucial.