Lima e Costa, a dupla de velejadores que sobrevive da vela

17:29 - 22/03/2015 DESPORTO
Jorge Lima e José Costa, os dois velejadores da classe 49’er que vão estar nos Jogos Olímpicos do Rio2016, confessaram à agência Lusa que em Portugal não se pode viver da vela, pode sim “sobreviver-se”.

Os dois velejadores sabem bem do que falam. Jorge Lima começou a andar à vela aos oito anos. Os pais faziam windsurf e o irmão Gustavo, quarto classificado na classe laser em Pequim2008, acumulava bons resultados nos ‘optimist’.

“A verdade é que rapidamente me adaptei, comecei a fazer bons resultados, como o meu irmão, e desde aí nunca mais parei. Ganhei três títulos nacionais de ‘optimist’ – segundo sei, sou o único português que o conseguiu. Depois fui velejar de laser radial, classe na qual também fiz alguns resultados relevantes, nomeadamente um pódio num Mundial de juniores”, relatou à Lusa.

Depois, vieram os 18 anos da incerteza. “Andei de prancha à vela, mas acabei por não me dedicar muito. Entrei para a faculdade e tive uma fase menos ativa. Julgo que, aos 22 anos, o Francisco Andrade, que foi o meu parceiro nos Jogos Olímpicos da China, convidou-me para andar em 49er. Aí começámos a treinar, ainda sem apoios nenhuns, e rapidamente conseguimos dar um pouco nas vistas. Tivemos uma grande ajuda do meu pai e logo a seguir conseguimos um resultado para o projeto olímpico, que depois culminou com o nosso 11.º lugar em Pequim”, recordou o velejador, de 34 anos.

É aí, desfeita a parceria com Andrade, que o destino de Lima se cruza com José Costa, um tavirense que, aos 11 anos, experimentou a vela no Clube Náutico de Tavira, por influência do pai, que fazia windsurf.

“Comecei como todos os miúdos, no verão. Eu jogava andebol e joguei até aos 18 anos. Fiz sempre as duas modalidades e depois vim estudar para Lisboa. Deixei de jogar e comecei só a andar à vela. Como tinha mais tempo, comecei a dedicar-me até que conheci o Gustavo, que me perguntou ‘ó miúdo, onde é que tu treinas?’. Disse-me para apontar o número dele e para lhe ligar”, contou à Lusa.

José Costa, de 31 anos, tornou-se então o parceiro de treinos do irmão do seu atual companheiro de navegação. “Depois dos Jogos Olímpicos de Pequim, quis continuar na classe (laser) porque ele ia sair. Na altura não tive qualquer apoio, apesar de ser o número dois português e desisti. Achei que a minha vida na vela tinha acabado e comecei a procurar trabalho. Já era licenciado (Patológica), mas não é logo que isso se concretiza. O Jorge veio falar comigo e convidou-me para andar. Eu tinha arranjado um trabalho em part-time para não voltar para o Algarve, mas disse ‘vamos lá experimentar’”.

A experiência começou no início de 2009 e dura até hoje, apesar do início altamente atribulado, lembrado, em conversa, por Jorge Lima.

“O José teve uma lesão no joelho e foi operado. Quando ele teve alta eu também tive de ser operado. Entretanto, houve também uma série de problemas ao nível da federação, que deixou de ter estatuto de utilidade pública e não havia equipa olímpica. Depois a gestão passou a ser feita pelo Comité Olímpico de Portugal (COP). No regresso da gestão à federação, fomos excluídos do projeto olímpico de uma maneira um bocado insólita e triste. O nosso potencial foi um pouco perdido aí”.

Mas o duo não desistiu e, em 2012, já excluídos dos Jogos Olímpicos de Londres, alcançaram “um resultado miraculoso”, que foi o quinto lugar no Europeu, e foram reintegrados no projeto olímpico. No entanto, apesar do apoio do COP, os dois continuam a ter de conciliar a vela com outras atividades.

“De facto, em Portugal não se pode viver da vela, pode sobreviver-se”, lamentou Costa, mestre em Treino de Alto Rendimento, sendo prontamente auxiliado pelo colega: “Exceto alguns casos, como o meu irmão, o Álvaro Marinho, o João Rodrigues”.

Esporadicamente, os dois são contratados por velejadores mais velhos, da classe dragão, e Lima faz “a ginástica de conseguir ter um horário” e trabalha na empresa do pai, de produtos naturais.

“Mas não é fácil, não é nada fácil. Não conheço nenhum outro velejador internacional que trabalhe”, garantiu, antes de ver Costa concluir: “As pessoas não têm noção do quão exigente é (ser velejador)”.

 

Por: Lusa