O Corredor de hidrogénio verde entre Portugal, Espanha e França

09:15 - 20/12/2022 OPINIÃO
André Magrinho, Professor universitário, doutorado em gestão | andre.magrinho54@gmail.com

No passado dia 20 de outubro, foi acordado novo gasoduto Barcelona-Marselha (BarMar) e CelZa, i.e., Celorico da Beira-Zamora, protagonizado pelos Primeiros-ministros de Portugal e Espanha e o Presidente da República de França.  Desenvolvimentos mais detalhados foram remetidos para a reunião de trabalho de 9 de dezembro em Alicante.

A atentar nas declarações dos diversos intervenientes, incluindo a Presidente da Comissão Europeia, Ursula Von Der Leyen, o corredor de hidrogénio, denominado H2Med, será composto por dois grandes "pipelines" entre Celorico da Beira e Zamora e entre Barcelona e Marselha. Estima-se que venha a transportar 10% do consumo de hidrogénio verde da UE em 2030, isto é, cerca de 2 milhões de toneladas de hidrogénio verde entre Barcelona e Marselha e 750 mil toneladas entre Celorico da Beira e Zamora, anualmente.

Para iniciar o processo, os três governos de Portugal, Espanha e França, propõem-se apresentar uma candidatura conjunta até 15 de dezembro, a fundos europeus, tais como o mecanismo Conectar Europa, que pode assegurar 50% do valor do projeto. As duas ligações internacionais serão essencialmente para transportar hidrogénio verde, no futuro, ainda que, num período de transição, transportem também gás, como havia sido inicialmente anunciado, aquando do acordo político. Assim, as ligações para o hidrogénio, produzido a partir de energias renováveis, juntam-se as já existentes de gás natural (que Portugal terá que readaptar para poder transportar hidrogénio) entre Portugal e Espanha e a outras elétricas.

O hidrogénio verde, como frisou António Costa, "por razões naturais, a Península Ibérica é um dos melhores locais da Europa" para "desenvolver as energias renováveis", conseguindo “preços mais baixos que outros países na produção da energia”, designadamente na energia solar. É nesta perspetiva   que o hidrogénio verde produzido na Península Ibérica é mais competitivo, além de que permite satisfazer as necessidades próprias da Península ibérica, garantindo igualmente capacidade exportadora para o resto da Europa, fazendo deste projeto um "Corredor de Energia Verde".

E, como referiu Ursula von der Leyen "A Península Ibérica será um hub de hidrogénio na Europa", revelando que estão a ser negociadas parcerias com o Egito, Marrocos, e outros países do sul do Mediterrâneo.  Este projeto é uma resposta aos imperativos da transição e de segurança energéticas, abrindo a Portugal a possibilidade de novas fontes de aprovisionamento, nomeadamente em África e no Mediterrâneo, até porque o corte, há cerca de um ano, do gás proveniente da Argélia, Portugal ficou numa posição de forte dependência da Nigéria, donde passou importar cerca de 50% do nosso consumo de gás anual.