PALAVRAS DE FOGO: DESAFIO PARA UM RENASCER | UMA INDEPENDÊNCIA A RESTAURAR

09:02 - 21/12/2022 OPINIÃO
Por: Padre Carlos Aquino | effata_37@hotmail.com

“O coração do rei é como água corrente nas mãos do Senhor (…) Prepara-se o cavalo para o dia da batalha, mas o Senhor é quem dá a vitória” (Pr 21, 1.31). Celebrámos há dias a Restauração da Independência de Portugal ocorrida a 1 de dezembro de 1640. Um dia de memória e de identidade, convidando a redescobrir e a valorizar fundamentos e raízes, o sonho de um País que se desejou soberano.

Mas para a maior parte do nosso povo e muito significativamente para os nossos jovens, riqueza do nosso presente e promessa edificadora de futuro, felizmente a viver independente e não já refém do poder de antigas, novas ou tiranas soberanias, este acontecimento tão longínquo no tempo já pouco ou nada significa. A celebração deste dia não passou de uma evocação bacoca exprimida num apático cerimonioso a que se ausentaram, não recordando um Património do qual já se perdeu a memória e o interesse, com pouco significado para as suas vidas. Vive-se como já adquiridas a autonomia, a liberdade, a soberania. Não interessa saber os caminhos que nos fizeram aí chegar, os desafios acolhidos no percurso dos tempos ou o acontecer surpreendente da História.

Também isto é pobreza! E é pobreza não se valorizar e celebrar num País, que agora se orgulha de ser laico, ignorando que o mesmo não significa o não reconhecimento e exclusão da dimensão religiosa do ser humano ou o ofuscamento do tanto que o cristianismo afirmou na nossa identidade enquanto Nação, que tal acontecimento tenha sido interpretado pelo proclamado Rei D. João IV, depois de ouvidas as cortes reunidas em Lisboa  a 25 de Março de 1646, como um ato de poderosa intercessão da Santa Mãe de Deus invocada como a Senhora da Conceição.

Por isso assentou tomar por padroeira de seus reinos e senhorios a Santíssima Virgem Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, autenticando com selo régio a devoção plurissecular do povo da terra de Santa Maria.

A História do nosso País, quando vista aos olhos da fé, dificilmente se compreende sem o recurso à intervenção tutelar de uma jovem Mulher, Mãe, a Virgem Santa Maria. Portugal nasceu em Guimarães à sombra da Senhora da Oliveira, foi depois abençoado por Santa Maria de Braga. Cresceu conduzido por Santa Maria de Alcobaça e afirmou-se perante Castela mediante a proteção de Nossa Senhora da Vitória.

Expandiu-se pelo mundo rezando a Santa Maria do Restelo ou de Belém e restaurou a sua independência, protegido pelo manto da Senhora da Conceição de Vila Viçosa. Voltou a reencontrar-se em tempos de grande escuridão e prova invocando-a e acolhendo-a como a Senhora de Fátima. Agora, neste tempo, em que assistimos, envergonhadamente, a tanta violência contra as mulheres, à indiferença perante a força criativa, renovadora e sábia dos nossos jovens, dispensando-os da reconstrução do País, a uma orfandade ideologicamente imposta, que belo e que grande desafio seria o de restaurarmos a nossa independência já adquirida, contemplando e acolhendo, de novo, esta Mulher. Portugal será sempre povo de Santa Maria. Por isso, ainda hoje se eleva da terra, esse canto do povo crente e peregrino de Portugal: “Salve Nobre padroeira do teu povo protegido…ó glória da nossa terra, que tens salvado mil vezes. Enquanto houver portugueses, Tu serás o seu amor”!