Educação, produtividade e salários

11:04 - 01/02/2023 OPINIÃO
André Magrinho, Professor universitário, doutorado em gestão | andre.magrinho54@gmail.com

Em Portugal os salários pagos pela grande maioria das empresas e outras organizações públicas e privadas, são baixos quando comparados com a média da União Europeia.  Por sua vez, temos a geração de jovens considerada a mais qualificada de sempre. Apesar deste progresso bastante significativo em matéria de qualificações dos jovens, nas últimas três décadas, uma parte muito significativa continua a ter que emigrar por dificuldade em encontrar emprego em Portugal com salários compatíveis. Significa que estamos a investir recursos escassos na educação, ciência e tecnologia, na geração jovem, cujos talentos não são retidos no país. Deste modo, vão criar riqueza noutros que não tiverem de fazer este investimento. 

Como se explica então este aparente paradoxo? E, o que funciona mal em Portugal para que estas situações persistam? Os vários estudos realizados apresentam diagnósticos e recomendações de política no mesmo sentido. Um deles, relativamente recente, realizado pela Fundação José Neves em 2022, é bastante esclarecedor sobre o problema de fundo, que reside na interligação entre educação, produtividade e salários. A produtividade não tem acompanhado o ritmo de crescimento das qualificações dos portugueses, sendo fundamental aumentar a produtividade para aumentar o ganho salarial associado ao incremento da escolaridade e assegurar os incentivos à educação. Em boa verdade, “a produtividade depende das qualificações de trabalhadores e de empregadores e da utilização ótima do talento”.

Os empresários e gestores das empresas, pelas dinâmicas de empreendedorismo, qualidade da gestão e pela motivação e liderança que imprimem, têm um papel determinante. “A distinção entre as qualificações dos trabalhadores e das equipas de gestão, revela que ambas contribuem de forma significativa para a produtividade da empresa e, aliás, com pesos muito próximos”. O estudo citado revela também que a produtividade é maior com equipas de gestão e trabalhadores mais qualificados e que as qualificações dos gestores têm um efeito na produtividade além das qualificações dos trabalhadores. O rendimento médio dos portugueses é o sétimo mais baixo da União Europeia e, na última década, o rendimento real aumentou apenas para os menos qualificados, em 5%, alavancados pelo aumento do salário mínimo. Para os mais qualificados, a perda chegou aos 11%, o que se traduz numa diminuição dos ganhos associados ao incremento da educação.

É certo, que as qualificações dos gestores de empresas têm aumentado, mas Portugal continua a ter a maior percentagem de empregadores e gestores que não terminou o ensino secundário, seguido de perto apenas por Malta. Em 2021, este era o caso para 47,5% dos empregadores, praticamente o triplo da média europeia que se fixou em 16,4%. Concomitantemente com as baixas qualificações da força de trabalho, este é um aspeto que pode estar a limitar a produtividade da economia portuguesa. E, sem ganhos de produtividade significativos, não existem boas experiências à escala internacional de subidas significativas e sustentadas dos salários.

Em síntese, o problema só se resolve de forma satisfatória com a criação de espaços de cooperação estratégica entre a comunidade empresarial, a academia (educação, formação, ciência e tecnologia, e outros centros de saber) e o governo, através das políticas públicas que deverão desempenhar um papel catalisador. Só assim, o conhecimento se transmite ao sistema empresarial, com incrementos sustentáveis de produtividade e dos salários, permitindo à economia crescer mais e melhor.