Por F. Inez

Dizíamos há não muito tempo, nestas mesmas crónicas, que em tempos que já lá vão, na minha então ideologia juvenil, duma pureza imaculada, perpassava a ideia e a convicção de que o Mundo … e a Humanidade … caminhariam inevitavelmente no sentido da perfeição …o Homem caminharia seguramente no sentido de um Mundo cada vez melhor na busca incessante da perfeição!  Santa ingenuidade …  própria dos ideais puros e imaculados da juventude!

Inevitavelmente não durou muito esta visão idílica … deste nosso mundo cada vez mais turbulento … de tal modo que hoje, algumas dezenas de anos volvidos, estamos a assistir, incrédulos, a comportamentos humanos incompreensíveis … e, inesperadamente, também à revolta da própria Natureza! Deixando já para trás os numerosos conflitos ao longo da História … que marcaram o mundo para sempre …  e para citar apenas os de maior dimensão que ocorreram e dramaticamente marcaram o seculo XX … a Guerra Civil Russa, as duas Grandes Guerras Mundiais, as Guerras Coloniais Portuguesas, as Guerras do Vietname e do Iraque … e outras escaramuças de menor dimensão … Depois de sanada a chamada Guerra Fria e derrubado o Muro de Berlim … em 1989 … símbolo da divisão entre dois mundos … houve quem preconizasse o fim da História … dos conflitos … o que demonstra que até os filósofos são ingénuos! Basta darmos uma vista de olhos à turbulência que continua ainda hoje a grassar um pouco pelo mundo fora … os numerosos crimes hediondos que decorrem dos conflitos étnicos e religiosos na quase totalidade dos países africanos e um pouco por todo resto do mundo, as inesperadas e impensáveis turbulências políticas como as que ocorreram no Capitólio dos EUA pelos apoiantes de Trump e nas sedes do poder em Brasília, pelos apoiantes de Bolsonaro … culminando tudo isto com a inesperada, criminosa e incompreensível guerra da Ucrânia … um dos maiores crimes da História Universal!

Mas o nosso País também não é exceção … a insatisfação generalizada que decorre da degradação do Serviço Nacional de Saúde, do Ensino e do empobrecimento progressivo da população em contraste com a opulência e corrupção de alguma classe política … marcam indelevelmente a nossa atualidade! Por outro lado, há muito a própria Natureza vem dando sinais da sua revolta! As alterações climáticas com as suas dramáticas manifestações … ondas de calor com temperaturas cada vez mais elevadas e insuportáveis, incêndios florestais incontroláveis, períodos de seca extrema e chuvas torrenciais acompanhadas de gigantescas inundações e mortíferos aluimentos de terras, a dramática diminuição dos glaciares polares com o inevitável aumento do nível dos oceanos  … a que acrescem as ameaças crescentes à biodiversidade que hoje se confronta com o risco da extinção de milhares de espécies, muitas delas indispensáveis à nossa sobrevivência.

Perante tantos fenómenos ameaçadores para a Humanidade, e em particular o risco nuclear, em 1947, foi criado por um grupo de cientistas, de uma forma simbólica, o Relógio do Apocalipse … que utiliza a analogia dos minutos que faltam para a meia-noite … o fim do Planeta e da Humanidade … e que avança ou retrocede de acordo sobretudo com a evolução daqueles e tantos outros riscos. Foi iniciado em 7 minutos para a meia-noite, durante a Guerra Fria e está, atualmente a 1minuto e 40 segundos da iminência de um cataclismo planetário … possivelmente nuclear … e simboliza a falta de preparação dos governos e dos políticos face às ameaças climáticas, nucleares e políticas que podem extinguir a Civilização. Tudo leva a crer que nos aproximamos velozmente da “meia-noite”, uma vez que desde 2007 passou a incluir também as alterações climáticas.

A Guerra da Ucrânia fez avançar o relógio mais 10 segundos e pode significar o Fim dos Tempos … a visão Bíblica do Juízo Final do Novo Testamento.  Resta-nos esperar que a inteligência e o bom senso do Homem se sobreponham à ambição e à loucura …