Isabel Fonseca - Vice-Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna
O Dia Mundial do Doente, criado em 11 de fevereiro de 1992, é dedicado às pessoas doentes e a todos aqueles que lhes prestam assistência. É um dia para relembrar que todos, sem exceção, têm direito a cuidados de saúde e para reconhecer que tratar o doente é da responsabilidade de todos, que não se limita aos profissionais de saúde.
É a nossa missão contribuir para um serviço nacional de saúde mais organizado, próximo do doente, acessível, ajustado às novas necessidades e anseios, que dignifique o doente e o profissional.
Neste contexto, devemos recordar a capacidade que tivemos para nos reorganizarmos em tempos de pandemia e que ultrapassámos com dignidade. Devemos também reconhecer os progressos que o nosso sistema de saúde tem conseguido, evoluindo para novas formas de organização e de prestação de cuidados de saúde, que compreendem as necessidades e as preferências do doente. Exemplo disso é a hospitalização domiciliária, que permite ao doente internado um regresso mais precoce ao domicílio mantendo os cuidados clínicos. Do mesmo modo, as unidades de cuidados paliativos, com ou sem equipas ao domicílio, e as unidades de cuidados continuados com as suas diferentes tipologias, transformaram nos últimos anos a assistência aos doentes, sobretudo aos mais frágeis. Há também novas formas de consulta, chamando a atenção as ferramentas informáticas que facilitam a comunicação entre doentes e médicos. Certamente que tudo isto ainda é insuficiente, como podem comprovar, nomeadamente os internistas na sua atividade clínica diária.
Se a doença fragiliza e nos torna vulneráveis, ela agiganta-se quando envelhecemos e por isso não posso deixar de aproveitar ainda este dia, para relembrar a necessidade de melhorarmos os cuidados aos idosos e de quem deles cuida. Constatamos que muitas famílias querem cuidar do seu familiar idoso doente, mas não conseguem. Poucas são as famílias que não querem prestar esses cuidados e em menor número são aquelas que os abandonam, contudo infelizmente, há quem não tenha ninguém. Impõe-se por isso que os cuidados prestados aos idosos, desde o centro de saúde ao hospital, passando pelos lares e unidades de cuidados continuados, tenham os recursos humanos disponíveis, ajustados e qualificados para dignificarem quem envelhece.
Por último e porque é notícia frequente, não posso deixar de falar do trabalho em urgência. Tendo tido a oportunidade de dirigir um serviço de urgência durante 10 anos, conheço bem os desafios que estes encerram. A atividade clínica em urgência é sentida como um esforço pouco reconhecido, causa desgaste nos profissionais e deixa pouco tempo para outras áreas da atividade clínica. Quando tentamos perceber os motivos para o insucesso dos serviços de urgência verificamos que os problemas estão a montante e a jusante o que não é nada de novo, nem nada que não seja conhecido há muito tempo. O que queremos quando estamos doentes? Conseguir agendar rapidamente uma consulta, sermos tratados e orientados em tempo útil. Se garantirmos isto aos doentes, o serviço de urgência ficaria limitado ao seu objetivo: o atendimento do doente com risco iminente de vida ou perda de função vital. É para estes doentes que as equipas médicas que aí trabalham estão dimensionadas e preparadas.
A conjugação e a coordenação dos esforços entre os cuidados de saúde primários e os cuidados hospitalares, referindo em particular os Médicos de Medicina Geral e Familiar e os Médicos de Medicina Interna, ambos com capacidade para gerir o doente adulto nos seus diferentes níveis de cuidados, determinará uma melhor e mais adequada orientação dos doentes. Apesar das deficiências estruturais e organizacionais que existem e que são sentidas por todos, acreditamos pelo que já conseguimos, que estas serão certamente ultrapassadas.