PALAVRAS DE FOGO: DESAFIO PARA UM RENASCER | RESLUMBRAR!

12:06 - 22/02/2023 OPINIƃO
Por: Padre Carlos Aquino | effata_37@hotmail.com

“Crer é habitar o caminho, habitar a tensão, viver dentro da procura” (José Tolentino Mendonça)

Usamos muitas vezes quase como sinónimos a palavra substantiva “fé” e o verbo “crer”. São vocábulos comumente usados para exprimirem a atitude global do homem religioso em relação à divindade. Fazem parte essencial da nossa existência humana mais do que pensamos e afirmamos.

Quem tem fé, quem crê, não se limita a admitir com a inteligência a realidade de um ser superior, mas liga-se a ele com uma atitude de abandono confiante, entrega-lhe a vida, e isto tem um peso determinante no seu modo de se relacionar com o mundo, os outros homens e de enfrentar a vida. Esta reflexão avivou-se-me pertinente na celebração do passado Dia Mundial da Memória do Holocausto.

Quanta escuridão e morte num mundo sem fé. A fé é um modo de ser, de viver e de amar. Segundo uma sugestiva etimologia medieval, “crer” do latim “credere”, deriva de “cor dare”, que significa “dar o coração”, entregar-se livre e voluntariamente nas mãos de um “Outro”. Ter fé é uma entrega, abandono, um ato de confiança, assentimento.

Dizendo “creio”, exprimimos simultaneamente uma dupla referência: à pessoa e à verdade; à verdade em consideração da pessoa que goza de particulares títulos de credibilidade.

A fé é sempre um dom e resposta à revelação de Deus acontecida particularmente em Aliança com o povo de Israel e de modo pleno e definitivo em Jesus Cristo, transmitida depois pela Igreja. A fé exige uma relação interpessoal, é Aliança, confiança e compromisso.

É cultura. A nossa geração contemporânea é de facto privilegiada pelo progresso e desenvolvimento humano e cultural que proporciona imensas possibilidades há alguns decénios insuspeitadas. Mas, de facto, juntamente com o maior domínio sobre a natureza e o veloz desenvolvimento técnico juntamente com conhecimentos mais aprofundados sobre os comportamentos humanos e sociais não diminuíram as assimetrias.

As conquistas biológicas, psicológicas e sociais nem sempre acompanham o harmonioso desenvolvimento humano.

Também existem muitas sombras e desequilíbrios nem sempre superficiais ou passageiros. Infelizmente ainda existem famintos e sedentos de justiça, desigualdades entre os homens e povos, a sedução por uma economia “que mata”, pela defesa de uma civilização hedonista e materialista que esquece e desvaloriza o primado da Pessoa e dos valores fundamentais.

A fé exige um olhar purificado e novo sobre a vida, o futuro, a esperança, uma nova avaliação dos valores e da existência acreditando que Deus conduz a História e as vidas. Por isso o Evangelho ainda hoje pode constituir uma Boa e Bela Notícia, alegre mensagem que gera vida nova e transformação profunda.

A fé brota sempre de Encontros, que mudam os caminhos e as mentalidades, porque Ele vem para dar vida em abundância. Hoje evangelizar as novas situações de cegueira, de vazios existenciais a partir de uma fé profunda e esclarecida, que seja um caminho para a visão da vida a partir de Deus e em Deus torna-se uma urgência.