Se Mário Soares foi acusado de pôr o socialismo na gaveta, os que lhe seguiram e chegaram ao poder deixaram-no lá estar
E são pelo menos duas as razões que têm afastado o Partido Socialista dos caminhos da esquerda: a ideia de que é ao centro que se ganham eleições e a impossibilidade de fazer qualquer aproximação aos comunistas e ao Bloco de Esquerda, que não alinham com o pragmatismo do PS quando chega ao poder.
São estas evidências que no entender de muitos militantes socialistas que uma nova geração de socialistas começa a contestar embalada pela crise de confiança dos jovens face aos políticos. “Existe uma simbiose geracional” diz o líder da concelhia de Loulé da JS. Com ele estão neste combate político, Mateus Rocha, vice-presidente da concelhia da JS Loulé e João da Conceição Silva, adjunto do líder da JS Loulé. Mas também jovens independentes algarvios, que ao longo do último ano têm demonstrado apoio às teses defendidas por estes três jovens apresentadas em palestras e colóquios em Escolas Secundárias e em espaços da Universidade do Algarve. São, para já um grupo informal, mas têm a médio prazo, a ambição de poder. Estão com António Costa sem hesitações e rapidamente deixaram de se rever em António José Seguro. Fazem parte da mesma geração e pedem mais intervenção do Partido em questões incómodas.
Muitas vezes saem das iniciativas do PS e almoçam juntos nos restaurantes de Quarteira, Loulé e Faro. Outras vezes, separadamente, pedem encontros com históricos do PS Algarve e tem almoços com regularidade com grandes grupos de jovens em restaurantes dos principais pólos urbanos do Algarve. Alguns socialistas não escondem, aliás aos mais próximos o agrado com que vêm impor-se uma nova geração de militantes no partido outros demonstram que este grupo pode ser uma grande ameaça para alguns dentro do PS. E, no entanto, este grupo já funciona para a liderança de José Pedro Cardoso como o grupo do “ex-secretariado” funcionou para Mário Soares, conspirando ativamente no sótão da casa de Algés de António Guterres, mas sem nunca apresentar uma alternativa de liderança. Desse famoso grupo do sótão do início dos anos 80 saíram três líderes do PS, Constâncio, Sampaio e Guterres. Sampaio chegou à presidência da República, Guterres a primeiro-ministro e Constâncio a vice-governador do Banco Central Europeu.
O grupo de Minerva é discreto na sua rutura teórica com a direção mas, no concelho de Loulé tem assumido posições contrárias à linha oficial em questões estruturantes como desenvolvimento económico da região, a descentralização de competências das Câmaras Municipais para as Juntas de Freguesia.
O menos discreto de todos os seus membros foi Hélder Semedo que passou, de um momento para o outro, de apoiante de Cardoso a seu opositor, quando abandonou com estrondo a vice-presidência da Federação do Algarve da JS, por discordar das sucessivas atrapalhadas do secretariado regional.
Apesar da rutura com o líder regional dos jovens socialistas, conseguiu a reeleição na Concelhia da JS/Loulé, derrotando a candidata próxima da direção regional e deputada municipal de Loulé, Rebeca Martins. Os seus mais próximos dizem que as ambições de Hélder Semedo passam por se candidatar a presidente da JS Algarve quando o cargo estiver disponível para a sua geração, depois de esgotadas as janelas de oportunidade de proto-candidatos como Ricardo Calé ou mesmo Guilherme Portada, ou, eventualmente, Rui Anselmo. Se avançar terá do seu lado a ex-líder da JS e sua amiga Jamila Madeira, que conhece como ninguém, a máquina do partido.
Mais do que tornar públicas quaisquer ambições de liderança, a preocupação destes socialistas é, nesta altura, ir passando a mensagem e consolidar um projeto coerente. “O nosso objetivo é lutar para repensar e rescrever o socialismo democrático é esse trabalho que fazemos diariamente. Somos socialistas e republicanos convictos, sabemos porque o somos, e não fazemos parte de nenhum partido de esquerda radical”, diz Hélder Semedo, assumindo que nem sempre é bem compreendido dentro do PS e da JS. “É com alguma frustração que vemos alguns camaradas a entenderem isso como um sinal de radicalismo, quando somos bastante moderados no que defendemos democraticamente.”
Anti terceira via
A ideia de que a crise reabriu a porta a um debate aprofundado sobre as questões ideológicas é comum a este grupo, que tem um ódio de estimação à terceira via acarinhada, em Portugal, por António Guterres. “As teses da terceira via comprometeram o projeto socialista português”, argumenta João da Conceição Silva. No mesmo tom, Mateus Rocha lamenta que a corrente adotada por Tony Blair tenha sido “o expoente máximo da contaminação do socialismo pelo liberalismo económico mais vil”.
O Estado de Previdência deve ser, na voz de um dos elementos do grupo, “o coração de vida do PS”. João da Conceição Silva concorda: “O grande desafio da nossa geração é recuperar a credibilidade da política junto do povo português no plano europeu. Queremos preservar o Serviço Nacional de Saúde, a educação pública ou a segurança social”. Por isso mesmo, entendem que, nesta fase, os socialistas estão mais próximos dos partidos à sua esquerda do que do PSD. Afinal, a luta pela recuperação de um Estado social forte é comum a todos.
Estes jovens acreditam que há várias esquerdas e que há claramente muita dificuldade em unir as esquerdas em Portugal, mas ambos acreditam que no futuro a união torna-se necessária para preservar o modelo do Estado Social. Mas separam o PCP de qualquer união, porque o PS tem um problema histórico mas se as coisas mudarem no PCP quem sabe.
O tempo dirá se esta nova geração se afirmará no PS e se isso acontecerá nos moldes que agora defendem. Por agora garantem que vão fazer barulho sempre que o partido se encostar à direita.
Por: JS Loulé