PALAVRAS DE FOGO: DESAFIO PARA UM RENASCER | RESGATAR!

11:26 - 05/03/2023 OPINIƃO
Por: Padre Carlos Aquino | effata_37@hotmail.com

“Se conseguires julgar-te bem é sinal de que és um verdadeiro sábio” (Antoine de Saint-Exupéry)

Avivei estas sábias palavras num contexto particularmente dramático e desafiador de uma Igreja ferida pelo mau testemunho dos seus pastores e de cristãos que não vivem com verdade e autenticidade a sua fidelidade ao Evangelho. Apascentam-se a si mesmos na sinuosidade de caminhos de escuridão, servindo-se dos mais frágeis e inocentes e não os servindo e amando como Jesus amou e mandou servir e amar.

É verdade que muitos outros, felizmente a maior parte, são testemunhas vivas e credíveis do Evangelho e pastoreiam com o coração de Cristo o Seu povo, mas não podemos calar, porque vemos, ouvimos e lemos o testemunho de tantos que descredibilizam a sua identidade e missão e destroem a família dos filhos de Deus.

É preciso resgatar a vida e a verdade de tantos sinais e gestos que matam. Muitos dizem-se homens e mulheres de Deus, mas não vivem habitados pela Graça. São funcionários do sagrado e não seus servos. Vivem da hipocrisia e muitos na autorreferencialidade, no individualismo, na superficialidade e banalidade de vidas timbradas pelo religioso, mas não por Cristo. Vidas vazias, edificadas na duplicidade e não vidas cheias de Deus e do Evangelho. A Igreja está ferida no seu corpo e em muitos dos seus membros, mas não deixa de ser a verdade de um mistério do qual não somos donos.

Muitas árvores precisarão de ser podadas ou arrancadas, mas a Igreja não deixa de ser bela como um jardim onde Deus habita e não cessa de purificar. O mundo precisa deste jardim e do seu alimento. É preciso resgatar a esperança dando crédito ao pequeno fermento que ainda leveda a massa, do humilde sal que continua a dar sabor e a conservar, da luz que não se extinguiu e continua a atrair e a iluminar.

Nesta hora da História, é importante que todos com humildade e verdade aceitemos também nos julgar diante da verdade da fé e do Evangelho, que não pode nunca acomodar-se ao relativismo do nosso desejo, do nosso pensamento e vontade. Importa aferir se o nosso modo de pensar, de dizer a fé e de a testemunhar com a nossa vida corresponde à verdade luminosa do Evangelho de Jesus Cristo. Vivemos mesmo como cristãos?

Salgamos e damos sabor ao mundo, conservamos o bem, a justiça, a verdade com o nosso agir? É preciso resgatar o amor da falsa afetividade, da hipócrita simulação da generosidade, da aparência de estilos que são tantas vezes embrulho de vidas enfeitadas de beatice, mas lhes falta a densidade do conteúdo, a falta de beatitude e santidade, de filiação e de fraternidade, de sabedoria.

Precisamos de sábios que sejam homens e mulheres da Palavra, profetas que apontem caminhos de futuro e rasguem horizontes de esperança, de sentinelas que protejam vidas e sejam artífices do seu reflorescer e crescimento. Precisamos de homens e de mulheres cheios de Deus, porque o mundo é mais frágil e pobre sem Deus. É preciso resgatar a verdade de um Deus que é plenitude de vida e de amor perante tanta falsa imagem de Deus e de credos que são palavras vazias, ecoadas em corações de pedra e não casas verdadeiras onde Ele habita.