A ascensão vertiginosa da China: até onde?

16:46 - 25/03/2023 OPINIÃO
André Magrinho, Professor universitário, doutorado em gestão | andre.magrinho54@gmail.com

Quando se fala da globalização no plano da geoeconomia, a China é apontada como o maior beneficiário. Depois da abertura da sua economia, protagonizada por Deng Xiao Ping em 1978, com a “Reforma e Abertura”, fazendo uma espécie de aliança com as multinacionais americanas, e de outros países desenvolvidos, a China tornou-se em poucas décadas o pólo central das deslocalizações industriais (a grande fábrica do mundo), sobretudo depois da sua adesão em 2001, à Organização Mundial do Comércio.  

Até recentemente, a China teve taxas de crescimento de dois dígitos, algo que se tem vindo a reduzir drasticamente, pois a economia chinesa cresceu 3% em 2022, o segundo ritmo mais lento dos últimos 40 anos. Esta quebra significativa do crescimento, não impede que, de acordo com um estudo elaborado pelo “Australian Strategic Policy Institute”, que efetuou uma investigação baseada na produção científica feita por vários países, entre 2018 e 2022, em 44 campos tecnológicos, tivesse  concluído que o nível de progresso chinês é notável, em setores tão diversos como o espaço, a energia e a computação quântica, estando a China à frente dos EUA em 37, onde se incluem tecnologias atuais como também avanços que ainda não existem, mas serão decisivos nas próximas décadas.

A China tem vindo a construir as bases para se posicionar como a primeira superpotência, albergando, nomeadamente, sete dos dez institutos de investigação mais poderosos do mundo no campo tecnológico, onde se incluem segmentos particularmente sensíveis, tais como o desenvolvimento de tecnologia militar hipersónica. Neste estudo, a China estará também à frente dos EUA em cerca de oito campos relacionados com a indústria energética, nomeadamente hidrogénio para produção de energia, supercapacitadores, baterias elétricas, sistemas fotovoltaicos, gestão de resíduos nucleares, biocombustíveis, tecnologia de energia direta (lasers, micro-ondas e ondas sonoras). Enquanto isso, os EUA, continuam a liderar em computação quântica, ainda que a China já os ultrapassasse em criptografia quântica, comunicações quânticas e sensores quânticos.

Sem dúvida que a competição com os Estados Unidos pela hegemonia mundial é doravante o fator mais relevante na política de Pequim, tanto mais que é conhecida publicamente a sua ambição de ser a potência líder mundial, a nível económico, tecnológico e militar, no horizonte 2049 em que se comemora o centenário da revolução chinesa. Consegui-lo-á? Até onde irá a China? Não existem obviamente respostas para estas questões. Muito vai depender dos realinhamentos que se estão a desenhar na nova ordem mundial, com notória aceleração desde que a Rússia desencadeou uma guerra na Ucrânia.  A China não poderá contar mais com as facilidades e o terreno livre proporcionado pelo seu posicionamento dominante numa parte significativa das cadeias de abastecimento globais. Razões de segurança económica e estratégica vão restringir significativamente a predominância da China.

Além disso, os EUA, a Europa e a generalidade dos países ocidentais, estão a compreender que a dependência criada pelas cadeias de abastecimento, por via do investimento em sectores estratégicos é de todo desaconselhável. E, no caso da China, sê-lo-á ainda mais, pois trata-se de uma potência autocrática e revisionista.  Os tempos que aí vêem poderão não ser tão fáceis para a China.