Por: Doutora Andreia Gomes - Diretora Técnica e de Investigação e Desenvolvimento e Inovação da BebéVida
A Perturbação do Espectro do Autismo (PEA) é uma alteração do neurodesenvolvimento que se inicia na infância que afeta cerca de 168 milhões de pessoas em todo o mundo. Carateriza-se por dificuldades de comunicação e padrões comportamentais, padrões de interesses podendo prejudicar o relacionamento com outras pessoas o que pode afetar o desenvolvimento da autonomia da pessoa.
A designação de espectro foi atribuída pela variabilidade dos sintomas, desde as formas mais leves até às formas mais graves. Geralmente, o autismo manifesta-se nos primeiros três anos de vida, maioritariamente entre os 15 meses e os 3 anos, altura existe uma grande evolução nas competências de comunicação das crianças. Estes sinais caraterizam-se por dificuldades de comunicação, habilidades sociais prejudicadas e comportamentos restritos e repetitivos.
As pessoas com autismo apresentam dificuldade em entender as perspetivas dos outros e muitas vezes lutam para se ligarem a nível emocional. Podem ser hipersensíveis a informações sensoriais, como ruído ou luz, e podem ter dificuldade em expressar sentimentos devido à falta de comunicação verbal ou linguagem não verbal reduzida. Estes sinais também incluem fortes interesses num determinado tópico ou atividade, dificuldades em generalizar novas informações, obsessões com certos objetos ou tópicos, foco intenso em detalhes e incapacidade de entender conceitos abstratos.
Os interesses específicos podem determinar que a criança se destaque em competências específicas, acima do esperado para a sua idade. No entanto, nas situações de PEA, existem outras competências importantes que ficam para trás, principalmente do ponto de vista social. Algumas crianças apresentam sintomas isolados que não correspondem necessariamente ao diagnóstico de PEA. Sendo assim, é imprescindível e imperativa uma avaliação detalhada e integrada para confirmar o significado de todos estes sinais e sintomas.
A prevalência do autismo varia significativamente entre os diferentes países, estimando-se que o autismo afete cerca de 168 milhões de crianças e adultos.
No entanto, este número provavelmente é muito maior, pois muitos casos permanecem sem diagnóstico devido à falta de recursos disponíveis e conscientização.
A prevalência do autismo também mudou ao longo do tempo, aumentando significativamente nas últimas décadas em todo o mundo. Por exemplo, a prevalência de PEA nos Estados Unidos aumentou de 1 em 150 crianças em 2000 para 1 em 44 crianças em 2018.
As razões para este aumento não são totalmente claras, mas julga-se que melhorias no diagnóstico, maior conscientização e mudanças nos critérios diagnósticos são considerados fatores que contribuíram para este aumento. Segundo o Institute for Health Metrics and Evaluation, em Portugal 1 pessoa em 200 apresentam PEA e cerca de 1 criança em 160 é diagnosticada com PEA. Atualmente, Portugal é o 24º país com mais diagnostico de crianças com autismo no mundo.
As pessoas com autismo geralmente precisam de apoio adicional ao longo de suas vidas para ajudá-las a tornarem-se mais independentes como por exemplo técnicos de análise comportamental aplicada, terapia da fala, psicomotricidade, terapia ocupacional, psicologia, pedopsiquiatria, entre outros.
O número de horas de estimulação é muito importante o que implica que os pais e educadores devem estar envolvidos, de forma a existir coerência na forma de interagir com a criança. É importante monitorizar o sucesso das medidas instituídas nas consultas médicas de seguimento no sentido de fazer os ajustes necessários.
Em algumas situações, as crianças beneficiam de medicação no sentido de conseguirem ficar mais serenas, mais atentas para poderem beneficiar de outros tipos de intervenção. O nível funcional atingido pelas pessoas com PEA é muito variável, variando entre formas mais graves que necessitam de supervisão constante de terceiros até formas muito leves com sintomas residuais e vida independente.
De momento, não existe nenhum tratamento que apresente esta possibilidade. Assim, vários estudos têm sido conduzidos para se conseguir chegar perto de uma cura para esta perturbação.
Um exemplo disto é o ensaio clínico realizado em 20 crianças diagnosticadas com PEA em que foram infundidas células estaminais de tecido do cordão umbilical. Durante o período de seguimento foi registado que estas aplicações das células de tecido do cordão umbilical foram completamente seguras para as crianças. Para além disso, em cerca de metade das crianças do estudo, as taxas das escalas clínicas usadas para medição da gravidade de PEA reduziram ao longo do tratamento ao ponto, indicando melhorias significativas e colocando estas crianças numa categoria de sintomas de PEA leve.
Outros ensaios clínicos têm sido realizados em crianças com PEA usando a aplicação de sangue do cordão umbilical, demostrando a segurança e melhorias comprovadas dos sintomas associados a estas perturbações. Como é o exemplo do ensaio clínico conduzido pela investigadora Joanne Kurtzberg que incluiu 180 crianças com PEA, com idades entre 2-7 anos.
A estas crianças foi infundido sangue do cordão umbilical autólogo (sangue do cordão umbilical da própria criança) ou alogénico (sangue do cordão umbilical de um dador), verificando-se que a infusão de sangue do cordão umbilical foi segura e bem tolerada pelas crianças.
Tanto o sangue como o tecido do cordão umbilical são constituídos por células que podem ajudar na melhoria dos sintomas associados ao PEA tornado a vida destas pessoas não tão complicada.
Este é um passo importante a perceber para que se compreenda que ao descartar (no momento do parto) algo que apresenta este potencial terapêutico podemos colocar ao lixo uma potencial ajuda no combate a esta perturbação.
Assim, mais uma vez sublinho a importância que o cordão umbilical apresenta na terapia de várias patologias e na recuperação dos doentes.