Por F. Inez
Ordinariamente todos os Ministros são inteligentes, escrevem bem, discursam com cortesia e pura dicção, vão a faustosas inaugurações e são excelentes convivas. Porém, são nulos a resolver crises. Não têm a austeridade, nem a concepção, nem o instinto político, nem a experiência que faz o estadista. É assim que há muito tempo em Portugal são regidos os destinos políticos. Política de acaso, política de compadrio, política de expediente. País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência?
Não! … não são minhas as palavras que acabam de ler … não fui eu que as disse, nem as escrevi o que acima foi dito ou escrito … o que acabam de ler foi escrito no jornal “O Distrito de Évora”, em 1867 e nada mais nada menos por esse “monstro” da Literatura Portuguesa, que então dava pelo nome de Eça de Queiroz! Estou em crer que ninguém no seu perfeito juízo tem a coragem ou sequer a veleidade de pôr em causa a clarividência e o brilhantismo de um dos maiores vultos da nossa Literatura. Foi, como todos sabemos, a atestar a sua grandeza e brilhantismo, escritor e diplomata … cônsul em Havana e mais tarde em Inglaterra e Paris. Os seus restos mortais repousam hoje no Panteão Nacional.
Pelo que pessoalmente me diz respeito, numa colaboração de longa data com a Imprensa Local, o tema da política nunca me despertou a necessidade implícita de o abordar, antes pelo contrário, origina como que um reflexo mental de rejeição … não por acaso nem por apolitismo ou desinteresse pela chamada coisa pública, que é da responsabilidade de todos nós, enquanto cidadãos, com direitos, mas também com deveres … mas por se tratar de uma área repleta de ambiguidades e naturalmente sempre contaminada pelas nossas inclinações ideológicas … daí a dificuldade de se trilhar caminhos de neutralidade e sem subterfúgios mais ou menos artificiosos.
Mas nada acontece por acaso … muito provavelmente porque foi para mim uma inesperada desilusão, mas suficiente, uma curtíssima participação na Comissão Administrativa da Camara Municipal de Loulé, que exerceu funções imediatamente após o 25 de Abril de 1974 e que coincidiu com o chamado PREC … Período Revolucionário Em Curso …de má memória … mas que, muito rapidamente me levou a pedir a exoneração daquelas funções! Aí terá começado a desilusão! Todavia, o problema não parece ser nem de hoje nem de ontem … Desde sempre, da política, se disse cobras e lagartos … é célebre a postura do General De Gaulle, herói da II Grande Guerra e mais tarde presidente da República de França, que dizia ficar muito surpreendido ao verificar que toda a gente acreditava no que ele dizia … porque os políticos, eles próprios, nunca acreditam naquilo que dizem.
Mas há mais … muito mais … é vulgar dizer-se que ao entrar num partido político, se assina um cheque em branco, já que nunca se sabe em que direção se vai … é exemplo de alguma coisa que falhou, um comício político em que se tenha falado verdade … a oposição faz determinadas exigências, não porque acredite nelas, mas porque politicamente lhe convém … até se diz que o político é um acrobata, consegue manter o seu equilíbrio dizendo o oposto daquilo que faz e que pensa! Já Almada Negreiros, célebre artista plástico desaparecido nos anos setenta do seculo passado, dizia, com uma certa graça, que … quando nasceu já estavam inventadas todas as teorias para salvar o mundo … mas só faltava salvar o mundo! No meu entender, a política é um pouco como a poesia … já que entre as palavras e o mundo há um abismo intransponível, como se a palavra fosse uma ponte para lugar nenhum! Finalmente … há quem diga que no dia em que se injetar verdade na política … acaba-se com a política! Ora bem .. por fim ainda há quem diga também que se vive hoje um tempo novo … já não é o mérito e a honestidade que triunfam … mas o oportunismo e a mediocridade! São bons exemplos de tudo o que atrás se disse da política os tempos conturbados e o desnorte por que o atual Governo vem dando inegáveis e desastrosas provas!
