PALAVRAS DE FOGO: DESAFIO PARA UM RENASCER | RESCENDER!

18:00 - 26/05/2023 OPINIƃO
Por: Padre Carlos Aquino | effata_37@hotmail.com

“Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe” (Oscar Wilde)

Inspiro-me neste pensamento de um controverso, mas brilhante escritor, poeta e dramaturgo irlandês para trazer à reflexão o mistério da vida. Enquadro-o noutra lógica e contexto, o da celebração da Semana da Vida, promovida pelo Departamento Nacional da Pastoral familiar. Esta constitui uma profética iniciativa do Santo Papa João Paulo II, quando do encerramento do Sínodo da Europa, em 1991 onde pediu que, em todos os países do mundo, a Igreja promovesse a celebração de um Dia ou de uma Semana da Vida, todos os anos. Pedido renovado depois na sua encíclica “Evangelho da Vida”, em 1995.

Passaram já trinta e dois anos. E como é oportuno ainda agora a valorizar. Este ano, celebrou-se este evento entre os dias 14 e 21 de maio tendo como lema inspirador, motivado pelas próximas Jornadas mundiais da Juventude: “Levanta-te! A tua vida é um dom”. É urgente que toda a vida seja acolhida como dom. Não somos, na verdade proprietários da vida e os seus donos. Recebemo-la fruto de generosidade, comunhão, partilha e amor. Por isso é bom e desejável que a vida exale sempre como dom recebido e acolhido um cheiro agradável, que cheire muito bem.

Que seja frutuosa, fecunda. Que todos nós, mas particularmente os jovens possam assumir essa bela e significativa missão: fazer rescender a vida. Que não sejamos simplesmente existentes, mas que saibamos viver na inteireza do que somos. Plenamente. Porque é urgente acolher e fazer crescer o dom da vida. Viver sem amarras e acédia. Não como meros espetadores e assistentes no balcão ou sentados, indiferentes e adormecidos no sofá. Mas como pensamos nós e como pensam os nossos coetâneos quando debruçados sobre a vida a respeito do seu mistério? Como vivemos? Também afundados na inquietação vertiginosa dos dias e sôfregos de atenção, atividade e consumo? Perdidos na murmuração e desencanto, violentados e roubados em nossa interioridade? Descobrimo-nos vivendo com paixão e sabedoria a construção de nós mesmos como quem edifica uma casa? Há Primavera dentro do nosso Outono? Como pressentimos os infinitos da vida nos instantes de cada momento? Que hospedamos no lugar mais recôndito de nós? Há ainda assombro em nós perante a beleza frágil da vida? Comove-nos o olhar da criança, o tom e o som das primeiras palavras, o sorriso puro e a ternura? Faz-nos vibrar ainda o amor dos apaixonados, o abraço dos companheiros, a fecundidade duma vida partilhada? Há espanto em nós pela resiliência e silêncio dos velhos, pelo fogo da memória do que fomos tecendo e guardamos e pelo que acontece? Em nossa condição humana que dizemos da vida? Simplesmente uma marcha para a morte? Precisamos aprender a tornar fecundo o nosso ponto de partida. Que trazemos por viver? Não basta uma reflexão cultural, um aprofundamento filosófico, doutrinal, axiológico, moral ou teológico. Precisamos do silêncio e da contemplação, da humildade e da força do agradecimento. De pequenos passos, a rescender a vida.